“O Pedro tem 18 anos e há meses escreveu-me uma carta de uma maturidade incrível, de um jovem que se preocupa com o futuro do país, incitando-me a entrar na corrida à presidência da República. Esta carta do Pedro foi muito importante para me fazer decidir, sair da minha zona de conforto numa altura particularmente difícil da minha vida e travar este combate que merece ser travado por todas e por todos nós que nos preocupamos com o futuro do país, que queremos um país mais justo, com mais oportunidades e em liberdade para nós que cá estamos e para as futuras gerações.
Obrigada, Pedro”
As palavras são da antiga eurodeputada Ana Gomes num vídeo publicado na sua conta de Instagram no dia 16 de setembro. Minutos antes estaria a colocar a carta de agradecimento ao Pedro no marco do correio, minutos depois a dar, na RTP1, a sua primeira entrevista como candidata presidencial.
Na conversa com Vítor Gonçalves, no programa Grande Entrevista, a socialista Ana Gomes deixou explícito o que a motivava a concorrer ao mais alto cargo da nação, desde Marcelo Rebelo de Sousa que teve "demasiado encosto" com o primeiro-ministro, ao exemplo deixado por Mário Soares até à recente perda do marido.
Já do Pedro pouco sabíamos, para além da idade e da freguesia onde vivia, Fânzeres, concelho de Gondomar. O nosso primeiro contacto com ele foi através doTwitter, onde o encontrámos “lisonjeado” depois de ter assistido ao vídeo. Falaríamos com ele cinco dias depois, curiosamente no dia a seguir a ter recebido a nota de agradecimento de Ana Gomes.
“Começa por dizer que por motivos pessoais e profissionais não pôde agradecer antes, por causa de umas arrumações foi perdendo a carta e só conseguiu fazer uma resposta no dia 16; parece-me que ela tinha dito que leu um ou dois dias antes da sua tomada de decisão. Na carta de resposta diz-me que o meu encorajamento motivou-a a levar por diante a sua ação de se candidatar à Presidência da República e disse ainda que a animava saber que jovens como eu se preocupavam tanto com o futuro do país e que não baixávamos os braços”, conta-nos Pedro, sobre o conteúdo da carta que lhe chegou à caixa do correio.
Pedro é Pedro Limões, recém admitido na Universidade do Porto, mais concretamente na Faculdade de Engenharia onde vai estudar Eletrotécnica e Computadores. Nunca fez parte de nenhum partido, embora já tenha sido convidado para integrar uma juventude partidária. Faz a sua participação política nas redes sociais onde comenta e fala sobre temas da atualidade, crise climática, enfim, “tudo aquilo que são causas que influenciam o nosso futuro, as reconhecidas causas dos jovens”, diz.
“A parte partidária da política é aquilo que menos me atrai, não tenho propriamente uma ambição partidária. Sou mais motivado por causas e acho que é isso que mais move os jovens hoje em dia. Se perguntarmos a um jovem o que é que ele acha do sistema político ele vai ou dizer que ou não percebe ou que são todos uns ladrões. Isto são comentários que ouvimos bastante. Mas se perguntarmos a um jovem sobre as alterações climáticas, pelos direitos LGBT já falam e já discutem”, diz Pedro Limões.
A única participação direta na política foi feita de forma independente, para apoiar a candidata do Partido Socialista à Junta de Freguesia de Fânzeres, Sofia Martins, uma candidata que o Pedro acreditava “ter o caráter e a determinação certa para exercer a função”. “Foi uma experiência enriquecedora para comunicar com a população”, conta.
Sofia Martins perderia a corrida à Junta para Pedro Miguel Vieira, candidato da CDU, coligação que junta PCP e PEV, mas Pedro apenas ganhou mais interesse na política. Em casa, foi exercitando esse gosto à mesa em frente a frentes com a mãe.
“O meu pai é bastante desligado das questões políticas, a minha mãe é de direita, eu sou de esquerda. Tudo aquilo que eu extraí da educação dos meus pais foram valores e nunca opiniões. Às vezes pode parecer um aspeto negativo, quando discordamos das coisas, mas pelo menos torna mais interessantes as conversas à mesa”, brinca.
Pedro Limões assume-se como uma pessoa que “não gosta muito de imprevisibilidades”, “preocupado com um país que parece que toma cada vez menos decisões em função dos jovens” e que vê em Ana Gomes uma figura capaz de “fazer alguma mudança pelas futuras gerações”.
“Olho para a Ana Gomes como parte da solução” para credibilizar o sistema perante os jovens que vêm a política com maus olhos" e que “acham que o sistema não trabalha em função deles”, diz. “É certo que o trabalho do Presidente da República não é legislativo, mas isso não quer dizer que não sirva para nada. Neste momento precisamos cada vez mais de uma Presidente da República que articule uma visão, tal como a Ana Gomes defende, que traga a debate assuntos que dizem muito aos jovens, e essencialmente lutar contra a corrupção que acho que é o maior entrave ao desenvolvimento do nosso país”.
Para Pedro, o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa não foi propriamente mau, mas não chega. "Existe muito a sensação que só por causa do estilo do Presidente, a proximidade dele com o público, que é necessariamente um Presidente para os jovens. Discordo um pouco dessa visão, acho que os abraços, os beijos e a proximidade com o público tornam Marcelo num Presidente fixe, não no Presidente dos jovens. E eu acho que não precisamos de um Presidente fixe neste momento, precisamos de alguém isento, independente e que lute pelas nossas causas e que não fale apenas das nossas causas”.
Foi assim que surgiu a vontade de escrever a Ana Gomes num momento em que a própria assumiu que, perante os vários apelos, iria ponderar se ia, ou não, candidatar-se a Belém.
“Quis falar-lhe um pouco do que me motivava, lutar pelos jovens, e o objetivo era fazer tender para o "sim" a tomada de decisão dela. Consegui com sucesso, e de certa forma orgulhoso por ter influenciado a sua decisão”, diz.
Na carta que, por razões pessoais não quis tornar pública, Pedro diz ter falado na descrença dos jovens no atual sistema, mais concretamente traduzido na abstenção do eleitorado mais jovem. “Disse que estava na altura de uma mulher Presidente e de alguém que não se limita a conviver com o sistema, mas que contribua para o reformar e exija governantes que façam o mesmo”.
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