"Um ano depois, o país está pior e a vida quotidiana das pessoas não está melhor", defendeu Montenegro, que acusou a maioria de esquerda de praticar "austeridade pura", numa intervenção no parlamento, no debate na generalidade da proposta de Orçamento do Estado para 2017.
A intervenção, que foi aplaudida de pé pela bancada do PSD, recebeu uma reação violenta por parte dos partidos que suportam o Governo, nomeadamente do deputado socialista João Galamba e do deputado do PCP António Filipe.
"Se a economia não cresce o que estava previsto, se as exportações não crescem o que estava previsto, se o investimento não cresce o que estava previsto, se o consumo não cresce o que estava previsto, se todas estas variáveis falham, como é que se podem acertar as contas? Com cortes e com austeridade pura", sustentou Luís Montenegro.
"Quando uma escola ou uma unidade de saúde encerram por falta de pessoal, o que é isto se não cortes a eito na despesa pública? O que é isto senão austeridade pura? Nem nos tempos da emergência, nem nos piores tempos de sacrifício, aconteceu que fechassem escolas e unidades de saúde", prosseguiu.
Para o líder parlamentar social-democrata, "até há um ano, Portugal era um exemplo de reformismo na Europa, hoje é palco de revanchismo e reversões" e "2016 foi efetivamente um ano perdido".
Montenegro atacou o primeiro-ministro pela "palavra que foi aldrabada" no fim da sobretaxa, que só acabará totalmente no final do próximo ano, atacou os partidos da maioria de esquerda que suporta o executivo e também os sindicatos.
"Como dizem os brasileiros, cadê os arautos do Estado Social? É a nova máxima das esquerdas: o povo que aguente", afirmou.
Sobre os sindicatos, questionou: "Onde estão os agitadores de outrora? Aqueles mais mediáticos? Aqueles dois ou três que representam alguns sindicatos nada politizados, esses agora, apesar de serem sindicalistas, estão de greve. Falam pelo silêncio, calam porque consentem".
Pegando nesta referência a um clima de menor agitação social, no período de pedidos de esclarecimento, o deputado António Filipe ironizou: "O PSD tem aqui grandes bandeiras de luta para mobilizar os portugueses pelas suas causas. Que tal uma manifestação pela reposição das 40 horas na função pública?".
"Que tal uma manifestação pela reposição da sobretaxa, como o PSD impôs? Que tal uma manifestação para que haja cortes nos salários e nas pensões? E uma manifestação contra os feriados? Uma manifestação dos restaurantes para que o IVA volte aos 23%?", questionou, provocando gargalhadas nas bancadas da maioria de esquerda.
Antes, João Galamba considerou que o líder parlamentar do PSD fez um número de ‘stand up' e pediu que abandonasse "o fato de humorista" e explicasse aos portugueses como PSD e CDS "prometeram a Bruxelas este ano ter mais 700 milhões de carga fiscal em impostos indiretos".
Sobre as pensões, o deputado e porta-voz do PS negou que PSD e CDS tivessem aumentado as pensões mais baixas, mas apenas um "micro conjunto de pensões mais baixas" e reafirmou o "critério básico de justiça do sistema contributivo, a carreira contributiva", segundo a qual quem descontou mais tem direito a uma pensão mais elevada.
"Gostava que explicassem a alguém que trabalhou mais 30 anos - e eu pensei que na direita portuguesa o valor primordial fosse o trabalho - que tem uma pensão de 303 euros, para os senhores deputados não só essa pensão ficou congelada quatro anos, como ficaria mais quatro", desafiou.
Na réplica, Montenegro acusou o PS de estar a fazer "a mesma figura" do que no Governo de José Sócrates, quando aumentou funcionários públicos e diminuiu o IVA antes das eleições e depois recorreu à ajuda externa.
"Voltaram à receita de 2010", disse.
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