“Temos que ter muito cuidado com a dívida e os custos da dívida. Continuamos sob observação estreita dos mercados, das agências de ‘rating’ […] e, se fôssemos para medidas eleitoralistas teríamos um impacto na taxa de juro através do prémio de risco”, disse a economista, referindo que nesta área a atenção que é dada a Portugal é “enorme”.

“Não podemos pensar que o problema está resolvido porque não está. Temos uma dívida que continua a ser muito alta e temos uma história que não é exatamente muito saudável”, avisou.

A presidente do CFP falava em conferência de imprensa na apresentação da segunda edição do relatório “Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2018-2022”, em que o organismo reviu em baixa a estimativa do défice para 0,5% para 2018, inferior ao previsto pelo Governo, e de 0,2% para 2019, apontando para um excedente orçamental apenas a partir de 2021.

O CFP projeta um défice de 0,5% para 2018, abaixo dos 0,7% estimados em março e também previstos pelo Governo no Programa de Estabilidade apresentado em abril e deixa vários avisos ao Governo.

Para a economista, a questão principal que continua a existir é a do controlo das despesas visto em termos estruturais e dirigidos a aumentos de eficiência que sejam sustentados.

“Isto requer medidas que vão muito para além de medidas pontuais. Têm que ser medidas que podem vir a afetar a própria forma como o Estado funciona em Portugal e são acentuadas as pressões pelo lado das despesas sociais, nomeadamente com o envelhecimento da população que cria uma situação que não podemos descurar”, disse.

“Temos muito pouco espaço para aumentar impostos ou aumentar a carga fiscal, assim como não podemos considerar aumentar a dívida como solução”, avisou a economista, referindo que num cenário de uma inversão da conjuntura internacional “Portugal terá que ter algum espaço para poder reagir”.

“Para termos esse espaço temos que ter as despesas públicas contidas de uma maneira sustentada”, disse.

Há também o setor da saúde, "muito complexo", referiu, a precisar de ser melhor trabalhado em termos financeiros.

"É preciso um consenso social, não só a nível político, mas de todos nós. A ideia de que é gratuito e por isso se pode gastar à vontade não é verdade. Pode ser gratuito o acesso à saúde e devemos fazer tudo para que continue a ser, mas esse acesso é caro e tem de ser pago", sinalizou Teodora Cardoso.

A responsável pede ainda “prudência” na análise da composição do crescimento económico, que está cada vez mais apoiado no consumo, público e privado, e menos no investimento e nas exportações, o que leva a alguma preocupação em torno da sustentabilidade do crescimento e da capacidade de resistir a possíveis crises.

“Sempre temos sublinhado que o motor do crescimento deve ser o investimento e as exportações, porque é o único motor sustentável de crescimento da economia”, disse.

“O consumo tem um efeito imediato, mas se não estimula a competitividade da economia acaba por se tornar contraproducente, vai aumentar as importações e no limite vai causar um travão ao próprio crescimento”, avisou.