
O produto interno bruto (PIB) ajustado pela inflação registou uma contração de 0,7% nos primeiros três meses do ano, numa base anualizada, de acordo com um relatório do Governo nipónico divulgado hoje.
O resultado foi ligeiramente mais fraco do que a mediana das estimativas dos economistas, que apontavam para uma contração de 0,3%, e deixa a economia em risco de cair numa recessão técnica no trimestre que decorre, dependendo do impacto das taxas aduaneiras dos Estados Unidos.
A queda das exportações e o aumento das importações fizeram com que o comércio líquido pesasse sobre a economia nos primeiros três meses do ano, após um forte impulso no trimestre anterior.
As despesas de consumo, que representam cerca de metade da economia, mantiveram-se praticamente inalteradas. O consumo manteve-se abaixo do seu nível pré-pandémico, influenciado pelo efeito da inflação e consequente redução do poder de compra.
A primeira contração durante o mandato do primeiro-ministro Shigeru Ishiba aumenta as preocupações sobre a resiliência da economia nipónica antes da entrada em vigor das tarifas de Trump no trimestre em curso.
A fraqueza da economia reforça, por outro lado, a ideia de que o Banco do Japão (BoJ) deve fazer uma pausa na subida das taxas, enquanto monitoriza o potencial impacto das taxas, depois de ter reduzido para metade a sua previsão de crescimento para este ano no início do mês.
A contração deverá também alimentar o debate político em curso sobre a necessidade de reduções de impostos ou de ajudas monetárias antes das eleições para a Câmara Alta do Parlamento no próximo verão.
A taxa de aprovação de Ishiba continua sob pressão nas sondagens locais, tendo atingido o nível mais baixo do seu mandato este mês.
O custo de vida tem vindo a aumentar muito acima do objetivo de 2% fixado pelo BoJ para este ano, impulsionado por um salto na inflação alimentar. O preço do arroz, o alimento básico da nação, continuou a subir em março, aumentando 92% em relação ao ano anterior. Isto obrigou algumas escolas públicas a reduzir o número de almoços com o cereal de três para dois por semana, segundo a emissora pública NHK.
Enquanto as famílias aguardam uma inflação mais baixa e um aumento dos salários reais, a Honda Motor Co. reduziu esta semana a sua previsão de lucros para este ano fiscal devido aos direitos aduaneiros dos EUA. Esta medida seguiu-se a uma redução efetuada pela Toyota Motor Corp.
Estes são sinais preocupantes para os decisores políticos, uma vez que as maiores empresas do Japão deram o mote para as negociações salariais que resultaram nos maiores aumentos das últimas três décadas nos últimos dois anos.
A primeira salva de medidas tarifárias dos Estados Unidos surgiu em março, quando Donald Trump impôs uma taxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio. A mesma taxa foi aplicada aos automóveis em abril, juntamente com uma tarifa universal de 10% sobre os produtos japoneses, que aumentará para 24% dentro de alguns meses, se não houver um acordo comercial.
O Japão tem registado poucos progressos nas negociações comerciais, apesar de o secretário norte-americano do Tesouro, Scott Bessent, ter sugerido, no mês passado, que as negociações com o país seriam prioritárias.
Enquanto Washington chegou a um acordo com o Reino Unido e acordou uma trégua temporária com a China, o secretário do Comércio, Howard Lutnick, afirmou no início deste mês que seria necessário “muito tempo” para chegar a um acordo com Tóquio.
O Japão segue os Estados Unidos, registando um crescimento negativo no primeiro trimestre. Com uma taxa de crescimento potencial projetada em cerca de 0,6%, a mais baixa entre os países do Grupo das Sete (G7) maiores economias do mundo, a economia japonesa registou, pelo menos, uma contração trimestral em todos os anos desde a pandemia.
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