“Para nós é claro (…) que estas operações foram organizadas e planificadas”, declarou Zeid Ra’ad Al Hussein em entrevista à agência noticiosa France-Presse (AFP), numa referência à repressão que vitimou vários milhares de pessoas e forçou mais de 650.000 rohingyas a procurarem refúgio no vizinho Bangladesh desde agosto.
“Não se pode excluir a possibilidade de atos de genocídio (….) Não se pode excluir que isso tenha acontecido, que tenha ocorrido”, disse.
Na semana passada os Médicos Sem Fronteiras (MSF) calcularam que pelo menos 6.700 rohingyas foram mortos entre finais de agosto de finais de setembro no decurso da repressão do exército birmanês no Estado de Rakhine (oeste da Birmânia).
Mais de 655.000 membros desta minoria muçulmana escaparam das violências e refugiaram-se no distrito de Cox’s bazar, sudeste do Bangladesh.
As autoridades birmanesas têm sistematicamente desmentido a prática de atrocidades no norte do Estado Rakhine, a região dos rohingyas, afirmando que o exército apenas respondeu aos ataques dos rebeldes muçulmanos contra esquadras da polícia em 25 de agosto, que provocaram 12 mortos entre os polícias.
No entanto, Zeid recordou que em 2016, uma vaga de violência tinha já forçado cerca de 300.000 rohingyas a fugir em direção ao Bangladesh.
O Alto-comissário, que não foi autorizado a deslocar-se à região em causa, apesar de numerosos pedidos, publicou em fevereiro um relatório baseado em testemunhos de refugiados em Cox’s Bazar, que se referem a “crimes horríveis, de crianças perseguidas e degoladas”, disse.
Zeid Ra’ad Al Hussein também rejeita a tese da repressão contra os rebeldes, ao sublinhar que os civis foram claramente visados. “Porquê perseguir uma criança pequena se o vosso alvo é um insurgente?”, questionou.
No entanto, sublinhou que vai competir aos tribunais determinar ou rejeitar a existência de genocídio, mas “não pensamos que se possa excluir ou rejeitar esta hipótese”.
Interrogado ainda sobre o nível de responsabilidade da dirigente birmanesa e prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, considerou que também deverão ser os tribunais a decidir.
“Existe também o crime de omissão: se estás totalmente ao corrente destes acontecimentos que aconteciam e nada fizeste para os impedir, podeis ser considerado responsável”, sublinhou.
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