Num comunicado, Lynn Hastings, que viu Israel recusar-lhe a renovação do seu visto na semana passada, admitiu não haver condições para prestar ajuda ao povo de Gaza e que as operações humanitárias poderão não ser capazes de dar resposta ao cenário que se avizinha.
“Desde o reinício das hostilidades em Gaza, em 01 de dezembro, 700 palestinianos terão sido mortos, além das 15.500 mortes já registadas. As operações militares israelitas expandiram-se para o sul de Gaza, forçando dezenas de milhares de outras pessoas a espaços cada vez mais comprimidos, desesperadas por encontrar comida, água, abrigo e segurança”, explicou, acrescentando que “nenhum lugar é seguro em Gaza e não há mais para onde ir”.
De acordo com a coordenadora humanitária, os abrigos estão sem capacidade, o sistema de saúde está “de joelhos”, falta água potável e saneamento adequado em Gaza, além da má nutrição em pessoas já mental e fisicamente exaustas, estando reunida a ”fórmula clássica para epidemias e um desastre de saúde pública”.
Hastings frisou que as quantidades de ajuda e combustível que receberam permissão para entrar no enclave são “totalmente insuficientes”, advogando ainda que a utilização exclusiva da passagem de Rafah – destinada a peões – para fazer entrar camiões de mercadorias “não funciona”.
“As operações humanitárias não podem ser mantidas com combustível a conta-gotas. É a base dos serviços sociais e das nossas operações, inclusive para hospitais, centrais de dessalinização, água potável e saneamento”, reforçou.
Hastings defendeu também que os setores comercial e público devem ser autorizados a fazer entrar produtos em Gaza para reabastecer os mercados.
Além disso, os anúncios de criação das chamadas zonas seguras e cidades de tendas sem garantias de que as pessoas poderão circular livremente e de que a assistência poderá ser prestada onde houver necessidade “são alarmantes”, considerou.
“Estas zonas não podem ser seguras, nem humanitárias, quando declaradas unilateralmente. A ONU está pronta para trabalhar com todas as partes para expandir o número de abrigos seguros geridos pela ONU e para prestar assistência onde for necessária”, acrescentou.
Israel informou as Nações Unidas na semana passada de que o visto da sua coordenadora humanitária para os territórios palestinianos, anteriormente acusada de não ser “imparcial”, não será renovado.
A canadiana Lynn Hastings foi nomeada em dezembro de 2020 pelo secretário-geral, António Guterres, como coordenadora humanitária da ONU para os territórios palestinianos e adjunta do enviado para o Médio Oriente, Tor Wennesland.
“Fomos informados pelas autoridades israelitas de que não vão renovar o visto de [Lynn] Hastings após este expirar, no final deste mês”, declarou na sexta-feira Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres, sem especificar se a responsável, instalada em Jerusalém, será substituída ou se continuará o seu trabalho a partir de outro local.
Apenas garantiu que a canadiana continua a ter a “total confiança” do secretário-geral.
No final de outubro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel atacou Lynn Hastings, referindo o seu nome na rede social X e acusando-a de não ser “imparcial”, nem “objetiva”.
Além de Hastings, também António Guterres afirmou hoje estar “extremamente alarmado” com o reinício das hostilidades entre Israel e o Hamas, apelando às forças israelitas para que evitem ações que agravem a “já catastrófica” situação humanitária em Gaza.
Os bombardeamentos e as novas ordens de evacuação de Israel estão a pressionar os palestinianos a “concentrarem-se em menos de um terço” da Faixa de Gaza, onde quase 1,9 milhões de pessoas foram deslocadas desde o início da guerra, afirmou hoje a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA).
? “A ordem de evacuação obriga as pessoas a concentrarem-se no que representa menos de um terço da Faixa de Gaza. Eles precisam de tudo: comida, água, abrigo e, acima de tudo, segurança. As estradas para o sul estão congestionadas”, disse o chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, num comunicado.
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