A falta de táxis está a trazer como consequência os agora constantes atrasos dos funcionários aos locais de trabalho, ao mesmo tempo que os taxistas que circulam na capital de Angola admitiram que vários dos seus colegas trabalhavam à margem da lei.
Numa ronda efetuada hoje na capital angolana, a agência Lusa observou grandes enchentes nas paragens de táxis coletivos e a reduzida presença das viaturas que exercem esta atividade, levando ao aumento das reclamações de quem depende de taxistas para circular por Luanda.
A “Operação Resgate”, que começou na terça-feira em Angola, tem, segundo as autoridades, como propósito o combate à venda ambulante desordenada, às transgressões administrativas e à imigração ilegal, bem como ordenar a circulação rodoviária, entre outros aspetos.
Para os cidadãos em Luanda, a operação, que visa “resgatar a autoridade do Estado angolano”, está a ter implicações diretas no seu dia-a-dia, pelo que se queixam do elevado tempo de espera na paragem devido à “falta de táxis”.
O cenário, que se estende por quase toda a Luanda, foi constatado na Rua dos Comandos, paragem de táxi do “Tanque do Cazenga”, um dos municípios mais populosos da capital angolana, conforme contou à Lusa no local Jéssica Ngola da Silva.
“No dia a dia isto está mal. O táxi está muito difícil e está a complicar muito fazer o trajeto [até ao local de trabalho]. Neste momento, que estamos na paragem, não há táxis e isto está muito cheio”, disse.
Para a estudante, de 23 anos, a situação acontece devido à “Operação Resgate”, que veio “regular” a circulação automóvel em Luanda.
“Muitos motoristas não têm carta de condução e penso ser uma das causas que faz com que aqui na paragem não tenha táxi”, observou.
Luís Alexandrino, funcionário público de 30 anos, admitiu que tem tido constrangimentos para chegar ao local de trabalho, no centro da cidade, devido à diminuta presença de viaturas, responsabilizando também a operação.
“Estou a esta hora [08:00 locais – 07:00 em Portugal] ainda na paragem por dificuldades de táxi e até agora nada. A Operação tem, sim, reflexos na atividade dos taxistas porque desde que ela começou houve muita mudança, e em relação ao táxi tornou-se mais difícil”, disse.
Porém, apesar das dificuldades, aplaude as motivações da “Operação Resgate”, por entender que ela veio garantir prudência no seio dos automobilistas, sobretudo taxistas, para a necessidade de regularizarem a atividade.
“Realmente, há muitos automobilistas desencartados e, com essa operação, está a existir maior controlo, a tornar os taxistas mais prudentes, porque muitos não têm carta e isso é crime. Apesar da dificuldade de táxis, a operação está a ajudar muito”, referiu.
Segundo Ilda Dinheiro, a “Operação Resgate” veio confirmar a existência de um “elevado número de taxistas inabilitados” para o serviço, situação que, disse, “vai ajudar a melhorar o país”.
“Estou a gostar da operação, uma vez que se confirmou que muitos cidadãos não têm carta de condução. Penso ser louvável, porque pelo menos assim mudamos de mentalidade, de forma a melhorar o nosso país”, afirmou.
Entre os taxistas, muitos confirmam que as enchentes nas paragens é consequência da reduzida presença nas ruas dos seus colegas, pois, explicaram, muitos conduzem sem carta de condução ou mesmo sem uma licença para o efeito.
“Porque todo o mundo tem de se legalizar, porque pagamos a Taxa de Circulação, a Licença e alguns trabalham sem qualquer documento, não se legalizam e agradecemos a operação”, disse à Lusa o taxista Joaquim Pascoal.
Há 10 anos na atividade, o taxista realçou ainda que, em consequência da demanda de passageiros, alguns colegas seus estão a especular o preço da passagem para valores superiores aos 150 kwanzas (0,42 euros) legalmente instituídos.
“Sim, aumentaram-se os passageiros, reduziram-se os taxistas, mas apelo aos meus colegas para evitarem especulação de preços”, indicou.
Já Zacarias Guimarães, 30 anos, cinco dos quais dedicados ao serviço de táxi em Luanda, deu nota positiva à operação, prevista para decorrer em todo o país por tempo indeterminado.
“A operação é uma boa medida e ainda não ouvi nenhuma anomalia. Estou a gostar. Aumentou, sim, o número de passageiros na paragem porque muitos colegas pararam a atividade pois não estão legalizados”, apontou.
Também o taxista Sidónio Marques considerou que, a par de “reparar erros”, o que é positivo, a operação veio igualmente “complicar” a vida de muitos cidadãos, sobretudo os que dependem do serviço de táxi para se deslocarem para o local de trabalho.
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