Um ano depois da segunda fase da passagem de profissionais de saúde ao regime das 35 horas de trabalho semanais, no início de julho de 2018, os dados da Ordem dos Enfermeiros indicam que teriam sido precisos contratar 1.700 profissionais, sendo que apenas 600 foram recrutados no verão passado.
“Até agora nem mais um”, respondeu à agência Lusa a bastonária dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, criticando a falta de preparação do Serviço Nacional de Saúde para a transição para as 35 horas de trabalho semanais.
As carências apontadas pela Ordem não coincidem com os dados oficiais fornecidos à Lusa pela Administração Central do Sistema de Saúde, que apontam para 1.100 autorizações de contratação de enfermeiros em 2018 e 450 já este ano.
A bastonária dos Enfermeiros considera que “não há aumento de contratações”, mas sim contratações que são temporárias, nomeadamente para substituir profissionais em baixas prolongadas.
“Não há vagas para novas contratações. Se é verdade que em números absolutos há mais profissionais de ano para ano, também há cada vez mais doentes, sobretudo idosos devido ao envelhecimento da população. Não se pode olhar só para os números. Tem de se olhar para o rácio e a verdade é que Portugal continua na cauda da Europa relativamente ao número de enfermeiros por habitantes”, refere Ana Rita Cavaco.
A passagem às 35 horas na saúde abrangeu enfermeiros, técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, farmacêuticos e assistentes operacionais. Os médicos têm um regime diferente e não estiveram integrados nesta transição.
Segundo a Ordem dos Enfermeiros, o SNS “já tinha uma carência crónica de 30 mil enfermeiros”, tornando necessário contratar três mil profissionais por ano durante 10 anos. Além disso, para colmatar a passagem das 40 para as 35 horas de trabalho eram necessários 1.700.
“Nem metade foram admitidos. Na verdade, os enfermeiros não trabalham 35 horas como antes não trabalhavam 40, pois trabalham muitas mais horas por semana, 60 ou 70, como dizem os relatos que chegam à Ordem. As 35 horas são só no papel, pois não há enfermeiros suficientes para cumprir horários de 35 horas, como antes já não havia para horários de 40. As 35 horas para os enfermeiros não existem, são um mero panfleto político para quem quiser continuar a ser enganado”, indicou Ana Rita Cavaco à agência Lusa.
A Ordem dos Enfermeiros alerta também que a taxa de absentismo nacional na enfermagem ronda os 12%, sendo que um em cada cinco enfermeiros estão exaustos e 18 mil estão a exercer no estrangeiro.
Aliás, segundo a Ordem, no ano passado o número de enfermeiros que foi trabalhar para fora do país duplicou em relação a 2017, sem contar com os profissionais que terão acabado por abandonar a profissão.
Comentários