“É importante investir mais no sistema de saúde, para que haja mais meios, médicos, enfermeiros, recursos humanos e materiais, para darmos uma melhor resposta, mas nem sempre essa resposta deve ser dada nos cuidados hospitalares”, salientou Alexandre Valentim Lourenço.
“O problema das urgências não se resolve apenas nos hospitais, resolve-se a montante, evitando que muitos doentes que não precisam venham para este serviço de urgência, esperarem horas a mais, quando os centros de saúde têm essa capacidade de o resolver”, frisou.
O dirigente regional da Ordem dos Médicos disse ter encontrado “a maior urgência da região sul a trabalhar em pleno, com muitos médicos, com muitos sistemas, a darem todo o seu esforço para tentarem resolver o problema da afluência e do mau planeamento dos serviços de saúde”.
“A questão de fundo é que o Ministério da Saúde continua a desinvestir nos recursos humanos. A verdade é que no ano passado 500 especialistas hospitalares não foram contratados e a verdade é que, neste hospital, nos seus balcões, estão equipas de prestadores de serviços”, criticou também o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
Para Roque da Cunha, as equipas do Amadora-Sintra, ao nível das especialidades, “também estão depauperadas” e, por isso, além de resolver o problema das urgências, terá de se encontrar solução para um hospital construído para 500 mil pessoas e que serve mais de 800 mil.
“Verificamos que existem centros de saúde em que os utentes estão à espera e que estão vazios, enquanto as urgências hospitalares continuam cheias. Não se trata apenas de abrir salas, nem recursos, significa que a articulação e o planeamento é essencial fazer-se”, advogou Valentim Lourenço.
No Amadora-Sintra, tradicionalmente com tempos de espera muito grandes, Alexandre Valentim Lourenço encontrou profissionais a darem “o seu maior esforço”, num serviço “desgastante, cansativo, psicologicamente brutal” e feito diariamente, “sem ver reforços nas suas equipas”.
Apesar de se ter deparado com “uma situação de grande movimento”, o dirigente da Ordem dos Médicos explicou que “o afluxo é médio para a época”, mas o sistema “está no limite” e não tem “elasticidade para permitir um maior afluxo”.
“Este sistema está nas últimas, garantido por um conjunto de profissionais que dão o litro, que dão o quilo, mas que já não podem dar a tonelada”, sentenciou.
Por seu lado, Roque da Cunha defendeu que “o Ministério da Saúde, ao invés de se preocupar com a propaganda, deveria preocupar-se em resolver os problemas de saúde e investir no Serviço Nacional de Saúde, coisa que não tem acontecido”.
“Consegue-se tapar o sol com a peneira pontualmente, mas estruturalmente o Ministério da Saúde continua sem dar resposta às necessidades em termos de recursos humanos, objetivamente, nem em termos de investimento”, lamentou o dirigente do SIM.
Uma situação que considerou afetar o Amadora-Sintra, mas também outras unidades na zona de Lisboa e no país, que “precisam de investimentos não só nos seus recursos humanos como nos seus recursos físicos”.
A deslocação ao Amadora-Sintra, em que também participou João Proença, presidente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, foi precedida de uma visita ao centro de saúde de Agualva, no concelho de Sintra, que funciona há décadas num prédio de habitação sem elevador.
A delegação deslocou-se depois ao centro de saúde da Amadora, para verificar as condições com que se debatem os profissionais de saúde “na fase aguda do surto gripal deste inverno e numa área em que se estimam em mais de 70 mil os utentes sem médico de família atribuído”.
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