“Foram 30 anos que mudaram o mundo”, muito mais do que a viagem do Homem à Lua, disse o responsável, que intervinha na segunda edição da “Glex Summit”, a Cimeira Global da Exploração, que decorre entre Lisboa e Ponta Delgada.

Iniciada na terça-feira e desde aí a decorrer em Lisboa, seguindo na sexta-feira em Ponta Delgada, a cimeira sobre exploração e ciência debateu num painel na tarde de hoje a viagem de Fernão de Magalhães, quando se comemoram os 500 anos do feito.

Na comunicação que fez no encontro o professor espanhol lembrou que a linha do equador tem 40 mil quilómetros e que a distancia entre Portugal e a China são 12 mil, e que nessa altura o restante do planeta era “um espaço desconhecido”.

Assim, concluiu, a viagem do navegador português “completou” em poucos anos “dois terços da Terra”, daí a importância do feito.

Fernão de Magalhães, como disse também o historiador português José Manuel Garcia, especialista na circum-navegação de Fernão de Magalhães (e do navegador espanhol Sebastián Elcano), foi o homem que permitiu conhecer o mundo tal como ele é, e que explorou 20 mil quilómetros que nunca tinham sido navegados, provando que no planeta havia mais água do que terra.

“Devia chamar-se Planeta Oceano e não Planeta Terra”, tinha dito antes Juan Marchena.

Mas foi mais ainda, de acordo com a intervenção do também historiador espanhol Rafael Valladares. A viagem fez parte da primeira globalização, que começou em 1492 (o início dos 30 anos referidos por Juan Marchena) com a chegada à América do genovês Cristóvão Colombo.

A descoberta da América, a viagem de Vasco da Gama à Índia (1498) ou a circum-navegação são datas que marcam o início da primeira globalização, com os elementos essenciais da conexão, da transferência e da mestiçagem, disse.

Segundo Rafael Valladares, a conexão provocou uma revolução no comércio e nas trocas, embora também com aspetos negativos, como a transferência de africanos, escravos, para a América. A transferência aconteceu quando os europeus passaram a estar em todos os continentes. E a mestiçagem deu-se quando a cultura em geral, a língua, a gastronomia, a arte ou a arquitetura começaram a estar em contacto.

No debate de hoje, e ainda no âmbito dos 500 anos da circum-navegação, Carlos Valentim, oficial de marinha e historiador, salientou que a viagem iniciada por Fernão de Magalhães e concluída por Sebastián Elcano foi “uma síntese de 100 anos de evolução técnica e adaptação dos instrumentos náuticos”, salientando a importância desse conhecimento para o sucesso da iniciativa.

A cimeira prossegue na sexta-feira a partir dos Açores para debater a biodiversidade do arquipélago, falar de baleias e tubarões, mas também de tsunamis e ondas gigantes.