“Porque é que devemos contratar refugiados?”. Josephine Goube (Techfugees) não se sente “confortável” com a questão que subiu à discussão no palco da Startup University, no primeiro dia da 3ª edição da Web Summit, evento que decorre até quinta-feira em Lisboa.

Para a CEO desta organização sem fins lucrativos que junta voluntariamente responsáveis da indústria tecnológica que procuram encontrar soluções para estes novos migrantes, “refugiados” não é uma “identidade”, mas sim “um estado”, atira a seco. “É o mesmo que dizer que temos que contratar mulheres ou indivíduos de raça negra”, remata.

Com 68,5 milhões de refugiados e migrantes no mundo de acordo com a ACNUR, Agência da ONU para os Refugiados, “metade tem menos de 18 anos”, sublinha Josephine Goube que acena, por essa lógica, com a bandeira da necessidade “da educação” e com a oportunidade de criação de empregos e negócios.

Embora assuma que há necessidade de ajudar os “1,5 milhões” de refugiados na Europa, avisa que a realidade pode ser outra. Testemunha, no seu dia-a-dia, “refugiados a construírem empresas (startups) para os europeus”. E reforça: “não estão à espera de serem escolhidos em empregos, não estão à procura. Eles estão a criar empresas, estão a criar empregos, são empreendedores, têm necessidades, gastam dinheiro e consomem produtos. É um novo mercado. É uma nova classe que está a surgir”, avisa. “Perderam a casa, a família, deixaram para trás o país, perderam muito capital” e por isso “querem continuar a vida e querem um trabalho. Continuar é a única solução”, sublinhou esta responsável desta organização que trabalha com empreendedores, startups e ONG que procuraram transportar tecnologia para o setor humanitário.

“Falta um migrante aqui no palco a falar. Da sua experiência”

Guillemette Dejean, Chief Operating Officer da Chatterbox empresa do setor social virada para a problemática da educação (aprendizagem de línguas) lamentou o facto de “olharmos para os refugiados como um problema”. Para esta oradora “devemos usar as suas experiências como um capital de empregabilidade”, referiu. “Necessitamos de gente que compreenda a língua (materna das populações migrantes)”, retorquiu, apontando esta via como uma das oportunidades de empregabilidade. “Temos uma professora que está na Grã-Bretanha onde leciona introdução ao árabe”, exemplificou, falando sobre histórias de sucesso. “O talento está à espera”, frisou.

Josephine Goube reconhece, igualmente, que a “barreira da língua é um problema”, e em especial no mundo das empresas. Baseando-se no exemplo do Womem Refugees, salienta “que as mulheres estão a aprender muito depressa” e que o “empreendedorismo é uma avenida”.

Levantando sempre as duas mãos e mexendo os dedos com o gesto de aspas quando fala de refugiados ou migrantes, a CEO da Techrefugees deixa um recado à organização da Web Summit. “Falta um migrante aqui no palco a falar. Da sua experiência”, um recado que arrancou aplausos de uma plateia que enchia o palco Startup University.