O Sínodo, a assembleia de bispos da Igreja Católica, que está a decorrer no Vaticano para discutir a região amazónica e os problemas dos povos indígenas, "não é uma reação contra a política do atual governo brasileiro", explicou à Lusa o também ex-jornalista da Rádio Vaticano, à margem do 46.º encontro, em Vila Nova de Gaia, Porto, da Associação Fraternitas, que reúne padres casados, durante este fim de semana.
Além da questão da falta de clero na zona da Amazónia, o Papa Francisco chamou os bispos ao Vaticano apara refletirem sobre questões ambientais, mas, salientou, "o chamamento a esta reflexão" é para toda Humanidade, apontando a encíclica de Francisco de 2017, “Laudato Si”, na qual o Papa aborda a questão ambiental com "mais frontalidade e intervencionismo" dentro da Igreja Católica.
"Eu não tenho nada a certeza que o Papa Francisco consiga dar este passo [de conseguir consenso na ordenação de homens casados em certas zonas da Amazónia]. Se não se conseguir é mais uma oportunidade histórica que se perde e é uma pena, mas há tantas resistências que o Papa encontra que não sei se vai ser possível dar esse passo", refletiu o padre José Maria Pacheco.
Embora a tónica do Sínodo dos bispos esteja a ser centrada na questão ambiental e vista por muitos como um "ataque às políticas" do atual governo do Brasil, o ex-jornalista recusou essa ideia lembrando que a reunião não foi marcada apenas agora.
"O Sínodo tem que ver com situações de zonas especialmente desprotegidas. Quando o Papa fala a questão do ambiente é a questão dos mais frágeis e de que o mais pobre dos pobres dos pobres, que é precisamente a Mãe Terra que foi abusada, ele pode estar a pensar, por maioria de razão, numa zona preciosa mas ao mesmo tempo fragilizada que é a Amazónia", contextualizou.
No entanto, realçou, "está longe de ser só o caso do Brasil e quem acusa o Papa de estar a promover uma atividade que poderia visar o Brasil do atual presidente está a esquecer que o Sínodo foi convocado há dois anos e que a própria iniciativa sobre a questão da Amazónia, embora seja património da humanidade, refere que há que evitar absolutamente intervenções neocolonialistas que venham por em causa a autonomia das respetivas nações".
Para José Maria Pacheco, Francisco está a dar "continuidade à intervenção oficial e pública da Igreja Católica sobre a questão [ambiental] (…) reconhecendo que o está a fazer com mais frontalidade, mais intervencionismo, com uma nova sensibilidade" e com uma mensagem também para fora da Igreja Católica.
Isto porque a encíclica “Laudato Si” contém "todo um capítulo que é o evangelho da criação que diz que se os cristãos acreditam que Deus é criador e criou o Homem como Deus pai, se o mundo é para a visão cristã um dom de Deus pai, isso faz irmãos todos os homens e todas as criaturas".
"Há um dever sagrado de respeitar, de tratar, de defender, de cuidar de cada pessoa, de cada criatura de cada ser", defendeu.
A Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazónica está reunida no Vaticano desde 06 de outubro e vai permanecer em discussão até ao dia 27 deste mês.
“O Sínodo Amazónico é um grande projeto eclesial, cívico e ecológico que visa superar confins e redefinir as linhas pastorais, adequando-as aos tempos atuais. Nove países compartilham a Pan-amazónia: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa e nesta região, importante fonte de oxigênio para toda a Terra, concentra-se mais de um terço das florestas primárias do mundo”, pode ler-se na página oficial do evento.
Comentários