Francisco, que está a realizar uma visita à cidade francesa de Marselha, conhecida há séculos por ser um ‘caldeirão’ multiétnico e multirreligioso, defendeu que “o fenómeno migratório não é tanto uma emergência momentânea, sempre boa para gerar propaganda alarmista”.
Esse fenómeno tem de ser gerido “com uma responsabilidade europeia capaz de enfrentar dificuldades objetivas”, afirmou no encerramento dos Encontros do Mediterrâneo.
O Papa já tinha criticado, na sexta-feira, o “fanatismo e a indiferença” perante os migrantes que procuram uma vida melhor na Europa e agradeceu às organizações que os acolhem após as travessias do Mediterrâneo.
Na viagem de avião para Marselha, onde ficará este fim de semana, o Papa lamentou a “crueldade e a falta de humanidade” com que a Europa está a tratar o drama dos migrantes que chegam à ilha italiana de Lampedusa.
No seu discurso de hoje, Francisco pediu que o Mediterrâneo seja considerado “um laboratório de paz” face aos atuais “nacionalismos anacrónicos e beligerantes que querem pôr fim ao sonho da comunidade das nações”.
No Palais du Pharo, onde se realizou o encontro, Francisco afirmou que se ouve sempre dizer que “a história do Mediterrâneo é uma rede de conflitos entre civilizações, religiões e diferentes visões”, mas garantiu que isso é um engano.
“As trocas que se realizaram entre os povos fizeram do Mediterrâneo o berço de civilização, um mar transbordante de tesouros”, sublinhou.
O Mediterrâneo é um “espelho do mundo” e “traz, dentro de si, uma vocação global de fraternidade, único caminho para prevenir e superar conflitos”, afirmou, perante o Presidente de França, Emmanuel Macron, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, e o vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas.
“No atual mar de conflitos, estamos aqui para reconhecer o valor da contribuição do Mediterrâneo e para que este volte a ser um laboratório de paz”, reiterou.
O Papa mostrou-se ainda preocupado com o ambiente, manifestando também a sua preocupação com “o desafio climático” no Mediterrâneo, onde “as mudanças estão a ser sentidas mais rapidamente”.
Francisco, que tem lamentado, em várias ocasiões, que o Mediterrâneo se tenha tornado “o maior cemitério do mundo”, confirmou a sua visita há meses, mas esta acontece precisamente num momento em que a Itália enfrenta mais uma vez um número crescente de migrantes que partem em frágeis barcos da Tunísia.
Depois de, na semana passada, terem chegado cerca de 10 mil migrantes em três dias à ilha de Lampedusa — ultrapassando a população residente de 6.100 pessoas -, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, ressuscitou os apelos a um bloqueio naval e anunciou novos centros para deter aqueles que não se qualificam para asilo até que possam ser mandados de volta para os países de origem.
Por seu lado, a França reforçou as patrulhas fronteiriças na sua fronteira sul com a Itália, a poucas horas de carro de Marselha, e aumentou a vigilância dos Alpes com drones para impedir a passagem dos recém-chegados.
Com as eleições para o Parlamento Europeu a aproximarem-se, no próximo ano, e a extrema-direita a desafiar a linha do Governo centrista, os responsáveis do Governo francês mantiveram-se firmes.
“A França não aceitará migrantes de Lampedusa”, disse o ministro Gerald Darmanin, esta semana.
“Não é acolhendo mais pessoas que vamos conter um fluxo que obviamente afeta a nossa capacidade de integrá-las” na sociedade francesa, acrescentou.
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