“O Reino Unido deve abrir um acesso legal de imigração”, declarou o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin.
Numa entrevista ao canal BFMTV, o ministro francês apontou culpas uma vez mais ao mercado de trabalho britânico, que considera ser muito permissivo com as pessoas sem documentos legais e que acaba por ser uma forma de apelo aos migrantes que arriscam a vida na travessia do Canal da Mancha, que liga França ao Reino Unido.
Darmanin mostrou disponibilidade para “discutir” com a sua homóloga britânica, Priti Patel, a quem retirou o convite para participar em Calais (norte de França), no domingo, num encontro com outros ministros europeus para debater uma coordenação e cooperação em matérias migratória, após a morte de pelo menos 27 migrantes na passada quarta-feira num naufrágio no Canal da Mancha.
Estas conversações, frisou o ministro, poderão decorrer desde que seja estabelecida “uma relação normal”.
Algo que não tem acontecido nos últimos tempos, segundo Gérald Darmanin, uma vez que os “discursos privados” que as autoridades francesas mantêm com os responsáveis britânicos “nem sempre estão de acordo com os discursos públicos”.
O ministro francês referia-se especificamente à carta dirigida ao Presidente Emmanuel Macron, que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, publicou nas redes sociais sem ter falado previamente com o governante francês.
Na missiva, Boris Johnson pedia à França que aceitasse de volta todas as pessoas sem documentos que chegam de forma irregular às costas britânicas.
Hoje de manhã, o ministro do Interior francês foi convocado por Macron para participar num Conselho de Defesa em que se trataria o problema das migrações entre Paris e Londres.
Darmanin enfatizou que, embora a França tenha recebido até agora 150.000 pedidos de asilo este ano, o Reino Unido recebeu apenas 30.000.
O ministro francês também disse que muitos migrantes que pretendem cruzar o Canal da Mancha clandestinamente não querem pedir asilo em França.
Segundo os números apresentados pelo ministro francês, 60% dos migrantes que atravessaram o Canal da Mancha têm probabilidade de obter asilo no Reino Unido, mas o problema é que esse pedido só pode ser formalizado se estiverem em solo britânico e daí o interesse destas pessoas em chegar a este país, mesmo correndo todos os perigos da difícil travessia.
O ministro francês disse que o seu país realojou em diferentes estruturas 12.000 migrantes que chegaram à região de Calais e Dunquerque para tentar cruzar o Canal da Mancha e que propôs abrigo a outros, que se recusam a aceitá-lo porque, na realidade, desejavam ir para o Reino Unido.
Por isso, destacou o ministro, esta insistência de Paris para que os britânicos “mudem a sua legislação”.
Darmanin mostrou-se ainda contra a abertura de estruturas específicas para recolher os pedidos de asilo britânicos na costa norte de França, porque isso iria atrair ainda mais migrantes para a zona.
O ministro do Interior francês disse que há atualmente cerca de 2.00 pessoas na costa norte de França à espera para embarcar clandestinamente para o Reino Unido.
Darmanin considerou que, em parte, isso se explica porque no Reino Unido estas pessoas não precisam ter os documentos legais para conseguir trabalhar.
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