Na base da ação do Juntos pelo Povo - partido que em coligação com o PS é oposição na Câmara da Maia à maioria PSD/CDS-PP - está a decisão da Câmara da Maia, em dezembro, de assumir uma dívida dos três autarcas ao Fisco superior a 1,4 milhões de euros e assumida enquanto ex-administradores da empresa municipal TECMAIA.

Esta decisão, tomada com os votos contra da oposição, foi posteriormente ratificada pela Assembleia Municipal da Maia, onde PSD/CDS-PP têm maioria também.

Contactada pela Lusa, a Câmara da Maia remeteu para o advogado Pedro Marinho Falcão que, em resposta escrita enviada à agência Lusa, afirmou que "neste momento nem a Câmara nem os visados foram notificados", estando, acrescentou, "a tomar conhecimento que pela comunicação social".

A dívida estava atribuída pelo Fisco a Bragança Fernandes, então presidente da Câmara da Maia e atual presidente da Assembleia Municipal, António Silva Tiago, antigo vice e atual presidente, e Mário de Sousa Nunes, vereador, todos eleitos pela coligação PSD/CDS-PP.

A proposta camarária, submetida em reunião de Câmara em dezembro e depois também aprovada em Assembleia Municipal, propunha que fosse pago um valor superior a 1,4 milhões de euros, sendo que 1.336.395,14 euros são relativos ao pagamento do IVA de 2013 a 2016, somando-se 136.189,95 euros de IRC e juros compensatórios, referentes ao período de tributação de 2015.

Este valor tinha sido apurado após uma ação de inspeção da Autoridade Tributária e após a dissolução da TECMAIA, medida decidida no âmbito da Lei 50/2012, que determinava que as empresas municipais com resultados negativos tinham de ser avaliadas.

Com a extinção da TECMAIA, o Fisco responsabilizou pessoalmente pela dívida da empresa municipal os seus ex-administradores – o anterior presidente da autarquia, o atual e um vereador.

O JPP questiona a legalidade desta reversão de dívida dos então administradores da empresa municipal para a Câmara, considerando que se trata de dívida "pessoal", razão pela qual exige agora perda de mandato de Silva Tiago, Bragança Fernandes e Mário Neves.

"Os demandados demonstraram com a sua conduta, participando (dando causa) num procedimento administrativo que cominou no pagamento de dívidas pessoais, uma atuação de tal modo desconforme aos princípios e normas, cuja gravidade de violação, impede a sua pertinência no presente cargo autárquico", lê-se na ação que deu entrada no TAF.

Segundo o advogado da Câmara da Maia, o facto de o assunto ter sido transmitido à comunicação social antes de chegar ao conhecimento formal da autarquia " demonstra que se trata de uma manobra política para denegrir a imagem dos autarcas uma vez que puseram a correr na comunicação social um pedido de perda de mandato sem que previamente fosse dado às pessoas em causa a oportunidade de se defenderem", referiu o advogado que, admitindo que a ação se refere ao caso TECMAIA e a pagamento de impostos, garantiu que a autarquia agiu dentro da legalidade.

"Tanto quanto se soube pela comunicação social trata-se de um pedido de perda de mandato que está relacionado com o TECMAIA (pagamento de impostos). Partindo deste pressuposto, que não se confirmou, a Câmara da Maia afirma que cumpriu todos os procedimentos legais e que todas as deliberações tomadas sobre esta matéria são compatíveis com as normas jurídicas que regulamentam as atividades das autarquias locais", concluiu.

A agência Lusa contactou responsáveis do Juntos pelo Povo para solicitar mais esclarecimentos sobre esta ação, mas até ao momento não conseguiu obter resposta.