A intenção de quem os partilha passa por chamar à atenção para os incêndios que já devastaram mais de 2.000 casas e fizeram 25 mortos. Mas ao fazê-lo, sem que o saibam, os utilizadores podem estar a difundir desinformação sobre a crise que assola a Austrália.

A imagem (que serve de ilustração do artigo) espalhou-se rapidamente pelas redes sociais e pode estar a ser mal interpretada, de acordo com a BBC. Segundo a emissora britânica, os utilizadores, incluindo a cantora Rihanna, podem estar a anuir que a imagem mostra a propagação do fogo em tempo real, sendo as zonas costeiras as mais afetadas com tons avermelhados flamejantes.

No entanto, a imagem é na verdade a interpretação visual do fotógrafo e ilustrador Anthony Hearsey a partir de dados recolhidos de um mapa da NASA. O autor reitera isso mesmo no seu site oficial e numa publicação no Instagram: "Isto é uma visualização 3D dos incêndios na Austrália. NÃO É UMA FOTOGRAFIA. Pensem nisto como um gráfico", escreve.

Hearsey explica ainda que a ilustração pretende ser um retrato das áreas afetadas pelos fogos durante um período de 30 dias (de 5 de dezembro a 5 de janeiro) e que se baseou no mapa da NASA e de uma imagem do site do governo australiano MyFireWatch. É, portanto, uma compilação e consequente interpretação de duas imagens e não de uma sinalização dos incêndios ativos.

Má interpretação da informação 

Há outro mapa a ser amplamente partilhado e que alegadamente reflete "todos os incêndios ativos na Austrália". Retirado do site governamental MyFireWatch, contém símbolos com cores que refletem uma série de pontos cuja cor determina em que estado está o incêndio; o vermelho, por exemplo, representa um fogo das últimas 12 horas e, um ponto amarelo, representa um fogo de 48 a 72 horas.

Porém, de acordo com a BBC, este ponto de calor reflete também se a fonte é mais quente do que área circundante, isto é, esses pontos podem ser torres de extração de gás natural ou refinarias. Ou seja, os símbolos podem não ser efetivamente um foco de incêndio. Outra ressalva feita pelo canal britânico passa pela leitura destes mapas relativamente à representação dos próprios símbolos dos pontos ativos dos fogos; mais concretamente de que estes não representam o tamanho real dos incêndios ou do perigo que representam.

Assim como alerta que a partilha nas redes sociais de capturas de ecrã (screenshots) na maioria das vezes omite detalhes e/ou informação como por exemplo o nível de risco representado pelo fogo e se está ou não controlado. E dá o exemplo dos Serviços de Fogos Rurais de Nova Gales do Sul, que fornecem um mapa com informação sobre incêndios, utilizando símbolos azuis que indicam vários de níveis de alertas como o "aviso" (sem perigo imediato) ou o "procedimento de urgência".

MyFireWatch | Bombeiros do Estado de Nova Gales do Sul
Em contraste com os mapas MyFireWatch (à esquerda), os símbolos azuis nos mapas dos Bombeiros do Estado de Nova Gales do Sul (à direita) mostram "avisos", indicando que não há perigo imediato. créditos: BBC

Segundo as autoridades, o Território Norte e o território da Capital Australiana são as únicas regiões australianas sem fogos ativos.

Um ciclone no norte da Austrália Ocidental e cheias no interior estão igualmente a causar problemas na região com o estado virtualmente isolado por estrada do resto do país, de acordo com as autoridades locais.

As autoridades australianas alertaram já um aumento do risco de incêndios no fim de semana, depois de as previsões meteorológicas apontarem para uma nova subida da temperatura e ventos mais fortes em vários pontos.