"Esse é o tempo que vivemos hoje, o tempo da demagogia política e é o tempo em que a política primeira, preferida, da maioria e do Governo é a da comunicação. Não vá a comunicação falhar, tivemos hoje notícia, provavelmente a última, de que a lei da rolha se deverá observar em matéria de serviços de proteção civil", criticou Passos Coelho, no seu discurso no jantar do grupo parlamentar do PSD.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) anunciou hoje que vai fazer a partir de quarta-feira dois "briefings" diários, incluindo aos fins de semana, sobre os incêndios no país, um de manhã e outro ao final do dia.
"Assim é mais fácil ser bem-sucedido na política de comunicação: é essencial que não haja notícias e depois espera-se que as que são captadas pela realidade não sejam tão más", disse, lamentando que as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande ainda não tenham visto "um tostão" do apoio solidário dos portugueses.
"Vivemos, portanto, um tempo de demagogia, de dissimulação, com grande destaque à preocupação com a política de comunicação", resumiu, dizendo temer que nada mude na próxima metade da legislatura.
O líder do PSD acusou ainda o Estado de "continuar a falhar", referindo-se a novos erros de coordenação e falhas no SIRESP nos incêndios de Alijó.
"Já começa a ser um bocadinho cansativo no parlamento estar a exigir às pessoas que digam o que estão a fazer em vez de se passearem, como se se tratasse de um cenário, pelos locais da tragédia", criticou.
Para os próximos dois anos de Governo PS - que disse acreditar que cumpra a legislatura -, Passos Coelho deixou um desejo: "Que nos poupassem às promessas e fizessem, porque o país não pode viver eternamente daquilo que já se fez no passado e digerir as reversões que já foram feitas. É necessário muito mais para o futuro".
No seu discurso, de cerca de 40 minutos, Passos sublinhou que o Governo "está a meio" da legislatura, e chamou a atenção para exemplos práticos de que "a maioria funciona", como uma recente aprovação de uma garantia pública para os lesados bancários em que o BE mudou o seu sentido de voto para permitir a viabilização da lei, depois de o PSD votar contra.
Passos Coelho voltou a referir-se à privatização da PT, reiterando que ela não foi feita pelo seu Governo, que se limitou a terminar com a ‘golden share' do Estado.
"Não foi por a ‘golden share' ter ido à vida que a empresa ficou pior, foi a coberto da ‘golden share' que o engenheiro Sócrates tem a seu crédito uma influência, que hoje é conhecida e ninguém duvida, no desfecho que a PT veio a conhecer", salientou.
O líder do PSD acusou ainda a atual maioria de continuar a cultivar "uma cultura dos direitos adquiridos", que "nem a bancarrota conseguiu afastar".
"E diga-se, em abono da verdade, que a jurisprudência constitucional revelou-se pródiga na defesa dessa cultura", salientou, numa referência às muitas decisões do Tribunal Constitucional contrárias ao executivo PSD/CDS-PP.
Para o líder do PSD, neste momento, a expectativa para o próximo Orçamento, que será apresentado em outubro, não é saber que reformas poderá trazer, mas na "agenda eleitoral".
"Quanto mais podemos dar? Quem fica com os créditos de alargar os cordões à bolsa?", apontou.
Depois de no ano passado Passos ter avisado os deputados, numa reunião à porta fechada, para "aproveitarem bem as férias", dizendo que em setembro viria aí "o diabo", no jantar de terça-feira não resistiu a voltar ao tema, em tom irónico.
"Já agora, enquanto o microfone está ligado, façam favor de aproveitar bem as férias", desejou.
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