“O atual Governo faz uma avaliação muito positiva do mandato que Carlos Moedas fez [enquanto comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação] e, de resto, disse-o publicamente e até o chamou a São Bento [à residência oficial do primeiro-ministro] para fazer uma bonita cerimónia de passagem de pasta. O Governo passa a pasta em Bruxelas aqui em Lisboa”, ironizou o antigo líder social-democrata Pedro Passos Coelho.
O também ex-primeiro-ministro discursava durante o lançamento do livro “Vento Suão: Portugal e a Europa”, de Carlos Moedas, em Lisboa, onde criticou o contraste entre a avaliação política feita pelo atual executivo liderado pelo socialista António Costa e as críticas feitas, em 2014, à nomeação de Carlos Moedas, na altura em que Costa era candidato a secretário-geral do PS.
Em setembro de 2014, António Costa lamentou a escolha de Moedas para comissário europeu.
“Foram escolher para comissário [europeu] alguém que é o mais ortodoxo dos ortodoxos que podia ser designado para comissário. Não sei se ainda se lembram do ministro [Vítor] Gaspar (antigo ministro das Finanças). Mas se achavam que o ministro Gaspar era um ortodoxo, então esperem para ver o que é o comissário Carlos Moedas, esse, sim, é o ortodoxo dos ortodoxos”, vincou, na altura, Costa.
Hoje, Pedro Passos Coelho atribuiu as declarações do atual primeiro-ministro “ao clima que se vivia no PS, que era de disputa interna”, lembrando também as críticas do então líder socialista, António José Seguro.
“O líder do principal partido da oposição, na altura, que era o PS, fez uma reação bastante pesada. Procurou diminuir a nomeação, disse que tinha sido negativamente surpreendido com a escolha que o Governo [PSD/CDS-PP] tinha feito. Catalogou-a como uma escolha, sobretudo, de natureza partidária”, afirmou o também antigo primeiro-ministro.
Passos Coelho reconheceu que atualmente as críticas feitas a Moedas “estarão deslocadas e quem as fez pensará de outra maneira” e enfatizou o “contraste repleto” entre a postura do PS, em 2014, e a posição tomada recentemente pelo PSD quando Elisa Ferreira foi indicada pelo Governo para comissária europeia portuguesa.
“Recordo-me bem do PSD (…). Sem necessariamente fazer a promoção da candidatura, na verdade endossou-a, endossou palavras de simpatia, realçando as características pessoais que eram relevantes e que habilitavam a comissária”, assinalou Passos Coelho, acrescentando que, “quando se trata de fazer escolhas desta natureza”, deve-se, “realmente, pesar um bocadinho melhor” o que é dito e “pensar que as coisas não se esgotam naquela altura”.
Durante a apresentação do livro, Carlos Moedas, que é atualmente administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, referiu que uma das missões do seu mandato na Comissão Europeia foi fazer com que “as pessoas olhassem” para Portugal e considerassem que era “um país de ciência e tecnologia”.
Na iniciativa estiveram, entre outras figuras políticas, a ex-líder do CDS-PP Assunção Cristas, os antigos presidentes da bancada parlamentar social-democrata Hugo Soares, Luís Montenegro e Fernando Negrão, o fundador do PSD Francisco Pinto Balsemão, o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, Miguel Pinto Luz, e o presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta.
AFE // SR
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