No jantar de Natal do grupo parlamentar do PSD, o último sob a sua liderança, Passos Coelho dedicou as primeiras palavras da intervenção política aos que perderam pessoas nos incêndios de junho e outubro deste ano.

“Este é realmente um ano que está a terminar do qual não podemos ter boas lembranças”, afirmou, considerando que os problemas do Estado que estiveram na origem dos incêndios “são falhas que continuam a existir”.

Passos Coelho lamentou não ter visto o primeiro-ministro, António Costa, que este fim de semana visitou algumas das zonas afetadas e entregou casas já reconstruídas, destacar o papel da sociedade civil nesse esforço.

“Ao cabo de meio ano, o Estado continua a mostrar, infelizmente, que não tem condições para responder às exigências que a sociedade civil sente”, afirmou.

Na sua intervenção, Passos Coelho acusou ainda o Governo do PS de nada ter aprendido com o passado e de “instrumentalizar o Estado e os portugueses”, tratando os cidadãos como clientes.

“Refiro-me não tanto a esta vertigem pelo dia-a-dia, pelo imediatismo, refiro-me a esta maneira de tratar o país, instituindo uma espécie de política neocorporativa em que o Governo segmenta todas as suas ofertas de modo a capturar os cidadãos como potenciais clientes específicos”, acusou.

Para Passos Coelho, este é um “insturmento de alienação democrática da política, que já foi usado persistentemente pelo PS no passado”.

“Eu gostaria que o PS tivesse aprendido com esta forma errada de instrumentalizar o Estado e os portugueses para poder sobreviver na política”, criticou, esperando que "quem quer que seja" o seu sucessor, "quem quer que seja" e o grupo parlamentar, "aconteça o que acontecer" na bancada, persistam nesta denúncia.

Defendendo uma política que ultrapasse a visão do curto prazo, Passos apelou a que o ministro das Finanças – agora com a responsabilidade acrescida de presidir ao Eurogrupo – possa “persuadir o Governo de que já está na altura não apenas de colher os benefícios dos esforços passados”, mas também de fazer reformas.

Para 2018, Passos Coelho deixou ainda algumas apreensões, nomeadamente quanto à situação na Autoeuropa, empresa que disse ter tomado, quando iniciou funções como primeiro-ministro, como exemplo de produtividade e estabilidade de negociação com os trabalhadores.

“Estas duas coisas estão fortemente em causa desde que, com a geringonça, BE e PCP têm visto empoderado o seu papel”, afirmou.

Passos referiu-se de forma irónica à recuperação do Conselho Superior de Obras Públicas, esperando que não sejam também recuperados os Governos Civis e dizendo temer por outras reversões.

“O ano termina também com o Governo cada vez mais endogâmico, a cada substituição que é feita, o Governo fecha-se sobre si próprio”, lamentou.