“A seu tempo, virá o ciclo eleitoral normal do PSD e, aí sim, cada militante será chamado a assumir as suas responsabilidades”, referiu, dizendo concordar com o presidente do PSD de que ainda se está “no perímetro do ciclo autárquico”.
“O tempo é agora de, saudavelmente e com os pés na terra, celebrar este momento político”, acrescentou no seu artigo semanal no Público.
Sem clarificar qual será a sua posição nesse ciclo interno, Paulo Rangel deixa, contudo, a sua visão sobre quais devem ser os “desafios substantivos” do partido e o posicionamento que o PSD deve adotar no espetro político e quanto a alianças.
“É importante que o PSD volte a afirmar e nunca abdique da sua vocação maioritária, pois o risco de erosão progressiva da sua identidade subsiste. Uma coisa são entendimentos, coligações ou alianças, outra são ‘frentismos’ que descaracterizem a marca de água do PSD”, defendeu.
No artigo intitulado “O PSD e Portugal: desafios da esperança”, Rangel começa por considerar que os resultados do PSD nas autárquicas “mais do que pelos seus valores crus, valem pelo sinal político que transmitem à sociedade portuguesa, à opinião pública e naturalmente aos partidos e aos seus dirigentes e militantes”.
“O sinal, apesar da vitória numérica do PS, é um sinal de esperança para a construção de uma alternativa sólida e credível, capaz de mobilizar os portugueses em torno de um projeto reformista”, aponta, defendendo que o PSD deve ocupar “um lugar central” no panorama político, que se “estende do centro para a esquerda e a direita”.
O eurodeputado, que já foi candidato à liderança em 2010 tendo perdido para Pedro Passos Coelho, saudou todos os candidatos do PSD vencedores na noite eleitoral, mas também os que não ganharam.
Entre os primeiros, deixou uma palavra especial a Carlos Moedas, em cuja vitória em Lisboa diz ter acreditado “do primeiro ao último dia”, pela forma como agregou várias forças políticas e independentes “sem nunca beliscar a identidade do PSD”.
“Pelo modo como, no meio das maiores adversidades e até hostilidades, se norteou sempre por ideias e pelo projeto programático para Lisboa; pelo modo como mobilizou os seus apoiantes (lembrando muito a “mística” das campanhas eleitorais dos anos 70 e 80)”, destacou.
Na análise dos resultados, Rangel considera ser tempo de “estudar bem os números e a sua distribuição territorial, em ordem a fixar e potenciar os ganhos e a inverter e reduzir as perdas”.
“O posicionamento estratégico e tático do PSD, a curto e a médio prazo, passa pela análise, pela digestão e pela compreensão destes resultados e das tendências que eles podem projetar. Este deve ser o debate que deve animar as semanas que aí vêm”, apelou, justificando o adiamento do debate interno sobre a liderança.
Como temas prioritários para o partido, o eurodeputado propõe o debate da aplicação dos fundos europeus (tanto do PRR como estruturais) “em contraponto à gestão estatista do Governo”, mas também, “como fez na década de 85-95” (de Cavaco Silva), a “liderança na promoção do ambiente”, a “valorização dos professores” ou a rutura com a “fratura artificial” entre funcionários públicos e trabalhadores do setor privado e social.
“E claro, hoje mais importante do que nunca, o respeito pela independência judicial, pela liberdade de imprensa, pela separação dos poderes e pela capacidade de escrutinar os executivos”, afirmou.
No início de setembro, numa entrevista numa entrevista no programa “Alta Definição”, da SIC, deixou em aberto uma eventual candidatura à liderança do PSD nas diretas de janeiro do próximo ano.
“Não tenho planos, mas sonhos sempre tive, não digo desta água não beberei um dia”, afirmou.
O PS venceu as autárquicas de domingo com 149 câmaras (148 sozinho e uma em coligação) e o PSD conquistou 114 autarquias (72 sozinho e 42 em coligação), um resultado superior ao das autárquicas de 2013 e de 2017, e que incluiu a vitória dos sociais-democratas em Lisboa, Coimbra, Portalegre ou Funchal.
Na madrugada de segunda-feira, o presidente do PSD, Rui Rio, considerou que o partido teve “um excelente resultado”, que o coloca em “melhores condições de vencer as eleições” legislativas de 2023, mas não quis ainda confirmar se será recandidato à liderança do partido, para não misturar temas da vida interna com as autárquicas.
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