Numa conferência de imprensa de apresentação das conclusões da reunião deste sábado do Comité Central do PCP, em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado sobre as palavras do primeiro-ministro, António Costa, que considerou que o Presidente da República teve falta de “bom senso” ao decidir dissolver o parlamento, considerando que foi uma opção “totalmente despropositada e desnecessária”.
Na resposta, o secretário-geral do PCP referiu que, apesar de o país estar numa crise política, a vida “das pessoas está em crise há muitos meses” e destacou que a decisão do Presidente da República está tomada e não suscita “nenhuma dúvida”.
“Talvez o melhor seja aproveitar este tempo que temos – ainda temos algum tempo – não para perder tempo em tricas, mas sim para perder tempo na resolução dos problemas das pessoas”, defendeu.
Paulo Raimundo deu o exemplo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), salientando que “cada minuto” que se perde “a falar sobre esses conflitos institucionais” é menos um minuto que se gasta a tentar resolver os problemas na saúde.
“Era preciso concentrarmos todas as forças que existem para resolver agora os problemas com que estamos confrontados, de respeito pelos profissionais, pelos utentes, falta de capacidade de dar resposta aos utentes do SNS”, sublinhou.
Questionado sobre o facto de o ministro da Saúde ter convocado uma nova ronda de negociações com os sindicatos dos médicos para esta semana, Paulo Raimundo considerou que Manuel Pizarro “fez bem”.
“Fez mal foi em ter desmarcado a anterior e andar há 19 meses a esta parte a enrolar as negociações e, ao mesmo tempo que anda a enrolar, vai paulatinamente desmantelando o SNS”, criticou.
Apesar de esperar que se chegue a acordo nessas negociações, Paulo Raimundo disse, “com uma certa mágoa”, que não acredita que isso venha a acontecer.
Interrogado se não considera que um Governo em gestão, sem capacidade para tomar decisões de cariz orçamental, pode comprometer ainda mais essas negociações, o líder do PCP considerou “uma falácia” a ideia de que o executivo não pode após o primeiro-ministro ter apresentado a demissão.
“O Governo está em plenas funções. No dia em que o senhor ministro se for reunir com os sindicatos, o Governo está em plenas funções e pode decidir o que entender, pode decidir o que quiser”, disse.
Paulo Raimundo referiu que se, por exemplo, “houver uma emergência no país”, como um temporal ou um incêndio, “o Governo de gestão pode e deve intervir, até em questões orçamentais”.
“Ora, nós estamos perante uma urgência: há uma grande urgência nas urgências. Há uma urgência no SNS, há uma urgência de falta médicos. Portanto, nós não alimentaremos essa ideia de que o Governo está em gestão e não pode fazer nada”, disse.
O líder do PCP indicou que “as consultas das pessoas, a falta de tratamentos, de médicos, de acesso a medicamentos, não ficam à espera quatro meses, nem podem ficar”.
“O Governo também não se pode refugiar nessa capa da gestão e não responder aos problemas das pessoas”, defendeu.
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