Jerónimo abriu o congresso a “cavar” diferenças com o PS de António Costa, depois de quatro anos (2015-2019) de entendimento à esquerda, os anos da “geringonça”, e a afirmar o partido como “força de oposição”.
“O PCP não é agora, nem foi na legislatura que findou, Governo ou parte de uma alegada maioria”, vincou, para dizer também que os comunistas “contam” para um Orçamento do Estado com “marcas” positivas.
E encerrou o congresso com a afirmação de que não há alternativa política, com “democratas e patriotas”, sem os comunistas: “Alternativa política que não é possível só com o PCP, mas também não será possível sem o PCP.”
Dias depois de o partido ter ajudado a viabilizar o Orçamento do Estado de 2021 do Governo minoritário do PS, Jerónimo usou esse facto, na abertura e no encerramento da reunião de Loures, para reclamar direitos sobre “os avanços” positivos alcançados.
O que serviu, igualmente, para uma crítica indireta – sem os identificar – ao Bloco de Esquerda, que votou contra o orçamento ao dizer: “Enquanto alguns desistiam, se há avanços, medidas” para os trabalhadores e reformados, “todas têm a marca, a contribuição, a proposta do PCP”.
Entre sexta-feira e hoje, passaram-se muitas horas de discursos em que o PS foi “encostado” às opções e políticas de direita, do PSD e CDS. Por exemplo, com as mudanças nas leis laborais, o que serviu também para João Ferreira, candidato a Belém pelo PCP nas eleições de janeiro, atacar Marcelo Rebelo de Sousa, por não ter travado esta legislação.
Coube a Francisco Lopes o contra-ataque aos que criticaram a realização do Congresso em pleno estado de emergência no país devido à epidemia de covid-19, respondendo que tais vozes são de “carrascos da democracia” que “vomitam ódio” contra o PCP.
"A resposta está dada: o XXI Congresso do PCP aqui está a demonstrar a importância do caminho a seguir, com proteção sanitária e combatendo a epidemia antidemocrática", declarou, recebendo uma prolongada salva de palmas dos delgados comunistas.
E dirigente Jorge Cordeiro, do círculo mais próximo da direção de Jerónimo de Sousa, a “ofensiva anti-comunista”, de “ódio fascizante” contra o PCP, por parte do “poder dominante”, visa o próprio “regime democrático”.
Num congresso em que Jerónimo de Sousa entra no seu 17.º ano de liderança – eleito por clara maioria, mas com um voto contra -, a nova direção comunista foi eleita no sábado à noite, destacando-se a entrada de João Ferreira, candidato às presidenciais de janeiro, para a comissão política do comité central.
Neste órgão, eleito por maioria, com uma abstenção, entraram também Carina Castro, Paulo Raimundo, Ricardo Costa e Belmiro Magalhães.
Acumulam a sua presença na Comissão Política e no Secretariado, além do secretário-geral, Jerónimo de Sousa, Francisco Lopes, Jorge Cordeiro, José Capucho e, agora, na sequência deste congresso, Paulo Raimundo.
Tal como o Secretariado, também a nova comissão central de controlo do PCP, que aumentou de sete para nove membros, foi eleita por unanimidade, registando-se a entrada do antigo deputado Agostinho Lopes e de Carlos Gonçalves, este último que cessou funções na Comissão Política do partido.
Num congresso que contou com 131 intervenções, a distância entre cadeiras, a colocação das máscaras e o uso do gel desinfetante foi escrupulosamente cumprida, fruto das circunstâncias pandémicas, que também impediram a habitual presença de convidados de outros partidos ou delegações no encerramento.
As saudações internacionais, oriundas de países como a Bélgica, Colômbia, Cabo Verde, Índia, Venezuela, Ucrânia ou Moçambique, foram longas e lidas durante três minutos, acompanhadas por palmas, mais fortes quando se referiu o partido comunista de Cuba ou a Frente Democrática de Libertação da Palestina.
Cantadas as tradicionais músicas, do “Avante!”, a “Internacional”, de punhos erguidos, e o Hino Nacional, os delegados foram relembrados das regras sanitárias que orientaram a sua saída.
“O distanciamento físico deve ser assegurado na saída, nas portas que os camaradas conhecem. Pelas condições concretas do congresso, os camaradas deverão deixar as cadeiras e bandeiras no lugar. A todos um bom regresso a casa, a luta continua”, ouviu-se nos altifalantes do Pavilhão Paz e Amizade, Loures.
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