“Três anos depois, a melhor e única homenagem às 66 vítimas é garantir que tudo será feito, sem esconder problemas, mas sem fazer demagogia. Isso é o que temos feito”, afirmou o governante, que participou esta tarde num debate parlamentar, requerido pelo PSD, sobre o tema “Pedrógão Grande, três anos depois".
Numa curta intervenção, após ouvir as declarações de todas as bancadas parlamentares, Eduardo Cabrita enumerou algumas das mudanças ocorridas após o incêndio.
“Nunca tinham sido pagas indemnizações com tanta celeridade. Nunca tinham sido recuperadas casas com tanta celeridade. Tudo mudou na vigilância. Nunca se falou tanto na limpeza [da floresta] e não foi a lei que mudou, mas sim a consciência dos cidadãos”, apontou.
O governante referiu-se igualmente ao cadastro das terras, sublinhando que a medida já foi concluída em 10 municípios portugueses.
“No futuro haverá incêndios certamente, mas todos juntos, sem demagogia, faremos tudo para que isso não aconteça”, disse.
Antes da intervenção do ministro, todas as bancadas parlamentares, excetuando a do PS, fizeram várias críticas ao Governo e à política florestal.
O primeiro a intervir foi o deputado do PCP João Dias, que afirmou que o executivo “não pode ficar só pelo lamento” e tem de criar medidas de apoio a todos aqueles que ficaram lesados pelos incêndios: “Quando o Governo diz que fez tudo para corrigir está a impedir que sejam tomadas as medidas necessárias. Prevenir incêndios implica investimento que o Governo não quer gastar.”
No mesmo sentido, a deputada do PAN Inês Sousa Real defendeu que o Governo não pode “continuar a gastar quatro vezes mais no combate aos incêndios e ter um “subfinanciamento na prevenção”.
“A primeira linha de atuação é a prevenção. Já sabemos que o atual dispositivo de combate, por si só, não dá resposta”, observou, defendendo igualmente um reordenamento “mais eficaz da floresta”.
O deputado bloquista Rui Vicente considerou que não é certo que “o país esteja preparado para enfrentar um evento de igual magnitude” como foram os incêndios de Pedrógão e apontou para a desorganização e “manutenção de comportamentos de risco por parte da população”.
Já o deputado do CDS-PP João Almeida pediu uma justiça “mais célere” e defendeu a necessidade de se “fazer muito mais do que se fez até aqui”.
“Falemos de coesão territorial. Conseguimos fazer a reparação? As pessoas que sofreram mais têm a sua situação reparada? E de equilíbrio territorial? Podemos olhar e dizer que neste momento temos uma distribuição mais justa?”, questionou.
Já Os Verdes, através de Mariana Silva, aproveitaram a sua intervenção para apresentar duas iniciativas legislativas: uma visa travar a expansão da área florestal ocupada pelo eucalipto e outra recomenda a criação de apoios específicos dirigidos aos pequenos proprietários para retirar as árvores queimadas pelos grandes incêndios de 2017.
Em contraste às críticas, o deputado socialista Santinho Pacheco desvalorizou as responsabilidades do Governo nos incêndios de Pedrógão Grande, elogiando a “rápida resposta” às vítimas.
“As cargas de combustível acumuladas nas florestas não têm responsabilidade governamental. O que ardeu em 2017 não cresceu em 2016”, argumentou, acrescentando que “pela primeira vez houve sensibilidade política, social, para responder em bloco”.
Do lado dos deputados únicos, André Ventura (Chega) recordou as burlas com os donativos destinados à reconstrução das casas de Pedrógão Grande, enquanto Cotrim Figueiredo (Iniciativa Liberal) defendeu que “nada pode ficar como antes e o que aconteceu não pode cair no esquecimento”.
O debate foi encerrado com a intervenção da deputada social-democrata Claudia André, que defendeu a necessidade de o Governo apostar na reflorestação e na gestão das florestas: “Investir nos meios de combate sem investir na floresta é o mesmo que se o Ministério da Saúde para fazer face à pandemia da covid-19 investisse apenas nos cuidados intensivos.”
No debate participou também o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes.
Em 17 de junho de 2017, deflagrou em Pedrógão Grande um incêndio florestal que depois se alastrou aos municípios vizinhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Ansião, Sertã, Pampilhosa da Serra e Penela, fazendo 66 mortos e 254 feridos.
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