Segundo os dados mais recentes do INE (Instituto Nacional de Estatística), a região do Centro de Portugal foi a que mais cresceu em todo o país na procura turística durante outubro, tendo sido registado um aumento de 20,4% no total de dormidas em hotelaria, em comparação com o mesmo mês de 2016.
"Este é um resultado extremamente positivo, tendo em conta que outubro foi o mês em que aconteceram os incêndios que voltaram a dizimar muitos concelhos da região, sendo um sinal de que os visitantes, portugueses ou estrangeiros, continuam a apaixonar-se pela região, apesar da tragédia que a afetou", disse à Lusa o presidente da Entidade Regional de Turismo.
Em outubro, o crescimento de dormidas no país foi de 6,35%. "Ou seja, a procura do Centro de Portugal cresceu quase quatro vezes mais que a média nacional" apesar da tragédia ocorrida meses antes, refere Pedro Machado, que elogia o espírito de solidariedade dos portugueses, que optaram por visitar a região apesar dos incêndios que em junho devastaram diversos concelhos do interior, em especial Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos.
Uma análise aos números do INE permite concluir, no entanto, que são os estrangeiros quem lidera as visitas ao Centro. Entre outubro de 2016 e outubro de 2017, as dormidas de estrangeiros aumentaram 36,4%, para 311.000 (tinham sido 228.026 em outubro de 2016). Comparativamente, a média nacional de crescimento de dormidas de estrangeiros foi de 6,5%.
"Isto não quer dizer que os cidadãos nacionais tenham deixado de procurar o Centro de Portugal. Pelo contrário: em outubro deste ano, registaram-se na região 238.175 dormidas de visitantes nacionais, mais 4,5% que em outubro de 2016", ressalva a Entidade Regional em nota enviada à Lusa.
O presidente da Turismo Centro lembra que a tendência de crescimento revelada pelos números é fruto de uma ação rápida das autoridades e dos investidores do setor a seguir aos fogos de junho, que afetaram de sobremaneira a "perceção de segurança" transmitida pela região.
O "rombo" na confiança dos turistas e operadores traduziu-se numa primeira fase pela queda em 77 por cento das reservas hoteleiras em toda a região, que foi a mais afetada a nível nacional pelo avanço das chamas
As autoridades estimaram em 25 milhões de euros o investimento necessário "para retomar a atividade turística" nos concelhos do Centro do país após os incêndios de junho. A situação viria a ser agravada com os incêndios de outubro, que atingiram 59 dos cem municípios que integram a Entidade Regional.
As primeiras iniciativas para relançar a atividade turística passaram pelas obras de recuperação de unidades afetadas pelas chamas e por uma campanha internacional de promoção da região, suportada por dinheiros do Fundo Europeu de Emergência.
A Turismo Centro trabalhou com a ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto (que gere a rede das 27 Aldeias do Xisto distribuídas pelo interior da Região Centro de Portugal), com a Turismo de Portugal e com a CCDRC - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro para avaliar a extensão dos estragos e elaborar um plano de recuperação, que em muitos casos já está concluído.
"Este é o tempo para visitar o Centro de Portugal. Faça férias no coração do seu país", apelou na altura Pedro Machado, confrontado com estragos avultados em 40 das 200 unidades turísticas da região (num total de duas mil camas).
Em junho, os estragos mais graves registaram-se nas aldeias de xisto Ferraria de São João (onde foi lançado entretanto um vasto plano de reflorestação), Casal de São Simão, Mosteiro e Pedrógão Pequeno.
Das 23 aldeias que integram a rede das Aldeias de Xisto, 19 saíram praticamente incólumes. As chamas afetaram também seriamente as praias fluviais do Pessegueiro e do Mosteiro.
Entre as medidas de emergência, que foram reforçadas depois dos incêndios de outubro, destaca-se a "linha de tesouraria" que permitiu financiar rapidamente as empresas que provem ter sido atingidas de forma grave pelos incêndios.
O teto desta linha de tesouraria é de 150 mil euros, com financiamento a fundo perdido até 75 por cento.
O teto para reparações de praias fluviais, percursos pedestres e outros empreendimentos turísticos é mais alto (400 mil euros) e depende das candidaturas dos municípios, que estão a ser apoiados na sua elaboração pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, pelo Turismo Portugal e pela Turismo do Centro. Acresce ainda a linha de crédito bancário com condições especiais.
Para além destas "medidas de emergência", as autoridades do setor do Turismo lançaram diversas campanhas de promoção da Região Centro. Nas zonas metropolitanas de Lisboa e do Porto está a decorrer uma campanha através de cartazes e múpis (expositores de publicidade, com dimensões médias, e um formato de cartaz, geralmente protegidos por um vidro), convidando os portugueses a visitar e a fazer férias na região Centro.
Nos supermercados Continente arrancou também a venda de pacotes turísticos da região Centro. Em colaboração com a AHRESP - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, a Turismo Centro negociou com as empresas de distribuição a inclusão de produtos do centro de Portugal nos respetivos cabazes de Natal.
"Estamos todos a trabalhar para que o setor [do Turismo] recupere o mais rápido possível na região Centro", diz Pedro Machado, que defende a revisão da Estratégia para o Turismo 2027, que estabelece "ações e objetivos" para o setor na próxima década, tendo em conta o impacto dos incêndios.
Pedro Machado considera que a Estratégia 2027 não pode ignorar as dificuldades criadas pelos incêndios de junho e outubro na atividade turística, lembrando que no Centro do país foram atingidos pelos incêndios deste ano 59 dos 100 municípios que integram a Entidade Regional.
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