No mês passado, o diretor-adjunto do British Fashion Council para a política e o envolvimento, David Leigh-Pemberton, disse ao Parlamento que os desfiles do próximo ano vão proibir a utilização de peles de crocodilos, cobras e outros animais. A proibição faz parte de um conjunto mais alargado de normas destinadas a promover práticas sustentáveis na indústria da moda.

Ao tomar esta decisão, Londres tornou-se a primeira das quatro grandes semanas da moda — Paris, Milão, Nova Iorque e Londres — a proibir as peles exóticas.

Segundo o The Guardian, especialistas em conservação criticaram a decisão da semana da moda e alertam para o facto de estar mal informada e poder prejudicar a proteção de muitas espécies de répteis.

Peritos científicos da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), um dos principais organismos de conservação do mundo, condenaram a decisão, afirmando que as peles exóticas são frequentemente opções muito mais sustentáveis do que o couro e os materiais sintéticos.

Assim, a proibição prejudica os incentivos económicos para que as comunidades conservem as espécies, advertindo que as alegações de que a decisão foi tomada por razões de sustentabilidade são “erradas”.

No parecer dos especialistas, as malas de luxo feitas de peles exóticas podem ser vendidas por dezenas de milhares de libras, com parte do dinheiro a reverter para a conservação das espécies de que são feitas. Daniel Natusch, presidente do grupo de especialistas em serpentes da IUCN apontou mesmo exemplos de grupos comunitários na Papua Nova Guiné e ao longo do rio Zambeze que desenvolveram sistemas sustentáveis de recolha de peles exóticas que beneficiaram as comunidades e a vida selvagem em geral.

"Se não gosta de utilizar animais para produzir uma pele ou o que quer que seja, tudo bem. Mas não diga ao mundo que é porque se preocupa com a sustentabilidade. Toda a análise do ciclo de vida foi efetuada. Não há uma única matéria-prima que conheçamos, para além do couro de ananás, que seja mais sustentável do que a pele exótica, em particular a pele de pitão. É ridículo. Se os designers fossem sérios e se informassem, estaríamos todos a usar cuecas de pele de cobra", afirmou.

Também Dilys Roe, presidente do grupo de especialistas em utilização sustentável e meios de subsistência da IUCN, critica a decisão e explica o que está em causa. "Há um pressuposto de que não é ético porque é selvagem. Se estão preocupados com o bem-estar dos animais, qual é a diferença em relação a um animal doméstico? As cobras não estão em perigo de extinção".

"Do ponto de vista da sustentabilidade, é falso pensar que as peles falsas são melhores. Se olharmos para o que é produzido, continuamos a ter as emissões de carbono e os produtos químicos associados. Penso que existe uma reação automática", justifica.