A rigorosa passadeira vermelho do Festival de Cannes tornou-se ainda mais inflexível. Em 2025, a organização anunciou que, por motivos de “decência”, ficam proibidas tanto a nudez como os trajes excessivamente volumosos em todas as áreas do evento, conta a BBC.

A decisão surge numa altura em que o “naked dress” – vestido com transparências ousadas – se tornou um ícone das passadeiras vermelhas. Em edições anteriores do festival, figuras como Bella Hadid, Isabelle Huppert e Naomi Campbell marcaram presença com este tipo de peças.

A proibição tem sido interpretada por muitos como reflexo de uma vaga crescente de conservadorismo cultural, especialmente no que toca ao controlo sobre o corpo feminino.

A conta anónima Boring Not Com, conhecida no meio da moda, reagiu nas redes sociais com ironia: “Deus nos livre que alguém mostre um mamilo”. E acrescentou: “O regresso silencioso do conservadorismo é real”.

As críticas não se ficaram pela dimensão moralista da nova regra. Muitos apontaram o paradoxo de se banir a pele descoberta no exterior, enquanto no interior do festival são projectados filmes com nudez explícita – quase sempre feminina.

Mas o festival sempre se pautou de polémicas deste estilo: em 2015, Cannes foi criticado por recusar a entrada de mulheres que usavam sapatos rasos e, em 2016, foi proibido o uso do burquíni nas praias locais.

A comunicação da proibição deste ano, feita apenas um dia antes da abertura do festival, foi também criticada por profissionais da moda, já que muitos tiveram de adaptar vestidos que já estavam preparados para o evento.

Na prática, esta será mais uma tentativa de disciplinar o espaço da passadeira vermelha e devolver-lhe um certo sentido de ordem.

Nos últimos anos, os eventos de tapete vermelho transformaram-se em plataformas de marketing para marcas de luxo, com celebridades a serem pagas para promoverem designers. Em Cannes, porém, esse fenómeno é mais subtil do que nos grandes prémios norte-americanos. Ainda assim, o festival tem-se tornado uma espécie de “semana da moda” não oficial, o que, para alguns, poderá desviar a atenção dos filmes.