Várias figuras do movimento #EndSARS contra a violência policial, que se propagou pela Nigéria em outubro, pediam hoje justiça para as vítimas de Lekki, no mesmo local, após uma decisão do tribunal que permitiu a reabertura daquela praça.

A 20 de outubro último, as forças de segurança dispararam sobre uma multidão reunida pacificamente naquele local, matando pelo menos 10 pessoas, segundo a Amnistia Internacional.

A polícia, destacada desde sexta-feira à noite para aquela praça, carregou sobre cerca de 20 manifestantes hoje de manhã e deteve-os nos camiões-cela, onde foram transportados, enquanto alguns cantavam: “O que é que queremos? Justiça”, relatou um jornalista da agência de notícias francesa, AFP.

Os manifestantes que chegavam perto à praça sentavam-se no chão e ofereciam os seus pulsos à polícia para serem presos.

A grande maioria dos manifestantes que se tinham deslocado ali foram quase imediatamente detidos pelas forças de segurança, que estavam presentes em grande número no local.

Ao mesmo tempo, o trânsito fluía normalmente, com alguns motoristas a cantar “EndSARS!”, enquanto passavam de carro.

“A praça de Lekki deveria ser transformada num museu da resistência e não num monumento dedicado a ganhar dinheiro”, disse Damilare Adebola, 24 anos, que se encontrava detido numa carrinha da polícia.

“Para aqueles que morreram, para aqueles que foram amputados, para aqueles que foram baleados, para as vítimas de EndSARS, queremos justiça”, afirmou um manifestante, que foi preso enquanto respondia a perguntas da AFP.

“A justiça é tudo o que queremos, a praça não deve ser reaberta”, acrescentou, mesmo antes de ser levado pelos agentes.

Pelo menos duas pessoas que foram presas e colocadas nas carrinhas de celas disseram à AFP que não eram manifestantes e que tinham sido presas porque estavam simplesmente a caminhar por aquela zona movimentada da capital económica da Nigéria.

As autoridades nigerianas tinham avisado na quinta-feira que quem planeava manifestar-se em Lekki corria “um risco muito elevado de violência”.

“Nenhuma nova violência em nome de EndSARS será tolerada desta vez, os agentes de segurança estão prontos para qualquer eventualidade”, advertiram.

Em outubro passado, várias grandes cidades do país mais populoso de África foram abaladas por uma onda de manifestações que exigia o desmantelamento de uma unidade policial, a Brigada Especial Anti Roubo (SARS), que foi acusada de múltiplos abusos.

A praça de Lekki, onde artistas e celebridades vieram apoiar os protestos, tinha-se tornado o epicentro das manifestações.

O governo tinha anunciado a 11 de outubro que iria dissolver a brigada, mas a medida não convenceu os jovens, para quem a violência policial é vista como sistémica.

As manifestações recomeçaram e a violência foi interrompida.

Muitos manifestantes acusaram batedores armados com paus e machetes de terem sido pagos para se infiltrarem nas suas marchas a fim de os intimidar ou desacreditar o movimento.

A repressão das manifestações, particularmente a 20 de outubro em Lekki, foi seguida de uma semana de pilhagens e violência.

Na sequência destes acontecimentos, foi criada pelo Estado de Lagos uma Comissão Especial de Justiça para investigar acusações de brutalidade policial e de repressão das manifestações.

Mas desde o início do ano, a investigação sobre a repressão em Lekki parou, enquanto oficiais do exército acusados de ordenar os disparos sobre os manifestantes, que foram convocados três vezes, não compareceram perante a comissão.

Um dos membros desta comissão e uma figura do movimento Endsars, Rinu Oduala, anunciou na sexta-feira a sua retirada deste painel judicial, que disse ter-se tornado um instrumento de diversão do governo.

Hoje, Rinu Oduala disse no Twitter: “Estamos a ser tratados como escravos e criminosos, quando tudo o que estamos a pedir são os nossos direitos”.

Oduala apelou também à “libertação de todos os manifestantes detidos”.