Este inseto que fez com que centenas de portugueses entrassem em contato com as autoridades são exóticos e alimentam-se essencialmente de plantas e culturas agrícolas. Atenção, é diferente do percevejo de cama, que também fez correr muita tinta, essencialmente em França, e que se alimenta de sangue. Ainda assim, o asiático, acaba por transtornar a vida das pessoas, não só pela quantidade de insetos que chega a casa das pessoas, pelo cheiro que exala, mas sobretudo pelos estragos que provoca no setor da agricultura.

“A DGAV esclarece que o Halyomorpha halys não é perigoso para pessoas, nem para animais: não morde, não pica, não suga sangue, nem transmite doenças, exalando apenas um cheiro forte e desagradável”, sublinha uma nota do ministério.

A Direção-Geral da Alimentação e Veterinária afastou o medo das pessoas, mas os especialistas pedem que os cidadãos portugueses ajudem a combater estes animais.

“Como? Matem-nos. Estes vão continuar a aumentar e a aparecer no futuro, cada vez mais. Apesar de serem inofensivos, a realidade é que podem prejudicar as culturas agrícolas, é essencial que estes não causem mais uma dor de cabeça para o setor da agricultura”, diz ao SAPO24 o biólogo Rui Chaves, considerando neste momento será mais difícil encontrá-los.

“Sim, neste momento eles procuram locais para hibernar e é natural que se deixem de ver em tanta quantidade”, salienta Rui Chaves, explicando também a elevada quantidade deste tipo de animais. “Não é fácil controlar porque, de momento, não há inseticidas para lutar contra este tipo de percevejos”.

São inofensivos, mas a realidade é que podem prejudicar as culturas agrícolas, é essencial que estes não causem mais uma dor de cabeça para o setor da agricultura”Rui Chaves

Apesar do avistamento destes insetos nos últimos meses, a verdade é que os especialistas há muito esperavam que estes fossem um caso de preocupação.

“Sim, havia dados que apontavam nesse sentido. Em dez anos era esperado que os percevejo-asiáticos invadissem mais países da Europa. Eles aparecem mais na Ásia, neste momento, mas tínhamos dados que apontavam que chegassem a outros locais”, refere Rui Chaves, não querendo alarmar, para já, a população portuguesa com esta afirmação. “São números de fácil controlo, não há razões para alarmismos. Neste momento, os casos são cada vez menos e, como referi, não são animais que prejudiquem a vida das pessoas, o essencial é controlá-los para que não afetem as produções agrícolas”, disse.

E é neste campo que o biólogo pede mais atenção. Ou melhor, pede ação.

Percevejo-asiático e o Bed bug (ou percevejo-de-cama)

Ambas as espécies pertencem à mesma subordem, mas são bastante distintos.

Assim, o percevejo-asiático é da família Pentatomidae e é um fitógafo, alimentando-se de seiva vegetal. É maior que o seu 'irmão, atingindo os 1,9 centímetros, tem asas e é de padrão marmóreo.

Quanto aos chamados bed bugs pertencem à família Cimicidae e tem como princial hospedeiro principal os humanos, alimentando-se de sangue. Tem cerca de cinco milímetros, cor castanha e não tem asas.

“Têm de ser combatidos, mesmo em hibernação. Peço a todos que vejam este animais que alertem as autoridades. O percevejo-asiático termina a sua hibernação dentro de pouco mais de mês e meio, em fevereiro estarão preparados para colocar os seus ovos nas plantas que atacam e podem duplicar-se rapidamente. É este o campo de pensamento que temos de ter para este tipo de animais, pois podem vir a ser uma grande dor de cabeça para os agricultores", disse, deixando mesmo um alerta claro.

"Os números podem mesmo ser assustadores, dependendo do número que possam atacar, 90% das culturas podem vir a ser perdidas. Os alertas começaram a chegar a Portugal há três ou quatro anos e agora temos de trabalhar no sentido de evitar a sua propagação. Eles alimentam-se entre abril e novembro e é durante este tempo que atacam os produtos agrícolas. A DGAV já emitiu comunicados, salientando que existem programas nesse sentido e é muito importante, mas é importante que as pessoas, os agricultores alertem as autoridades se avistarem estes animais em hibernação”, referiu Rui Chaves, salientando depois que a chegada destes animais a Portugal será para continuar.

“O clima em Portugal em Portugal ajuda a isso mesmo, vão chegar cada vez mais, assim como a outros locais da Europa. Será preciso um cada vez maior controlo deste tipo de insetos. Não podemos continuar a fechar os olhos, as alterações climáticas levam a este tipo de situações. Já sabíamos que eles iriam chegar, chegaram mais cedo e vão continuar a chegar”, concluiu.

"Os números podem mesmo ser assustadores, dependendo do número que possam atacar, 90% das culturas podem vir a ser perdidas. Os alertas começaram a chegar a Portugal há três ou quatro anos"Rui Chaves
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OS PERCEVEJOS-ASIÁTICOS SÃO UM GRANDE PROBLEMA PARA AS CULTURAS AGRÍCOLAS créditos: Paul J. RICHARDS / AFP

A Rosa que teve de sair de casa e o Bruno que fechou os seus AirBnb

Não fazem mal, mas são "chatos para caraças". São estes os percevejos-asiático, que o digam a Rosa e Bruno.

Já este ano, em outubro, a Rosa teve de trocar o "apartamento lindo que tinha em Viseu", tudo por causa destes insetos. "Fui numa viagem até à Turquia e tenho a certeza que trouxe o percevejo de lá. A minha casa começou a ficar infestada, chamei mais do que uma empresa para encontrar uma solução, mas não consegui, acabei mesmo por ter de sair desta casa alugada", diz a Rosa ao SAPO24, relatando o tormento que teve com estes animais, mesmo depois de sair da casa.

"Ficamos a pensar sempre que não está resolvido e que vão aparecer na casa que escolhermos. Um dia acordei e estava dezenas na minha cama, é uma imagem que tenho sempre e é normal começar a procurar pelos mesmos na casa onde estou agora", relatou.

Se a Rosa teve de sair da sua casa alugada, Bruno teve de fechar cinco apartamento AirBnb em Portimão. "Foi no final de setembro, não foram todos ao mesmo tempo, mas nas contas finais foram semanas com cinco apartamento fechados. Recebia, por norma, muitos mais estrangeiros do que portugueses e foi algo que acabou por ser incontrolável. Não podia estar a alugar uma casa sabendo o que se passava lá dentro. Felizmente agora está tudo resolvido, mas já li que o Algarve pode ser uma das zonas mais prejudicadas pelo percevejo-asiático, esperemos que sejam tomadas medidas", concluiu.