Pela primeira vez em tempo de pandemia, o Santuário abriu as suas portas sem limite de lotação. O desconfinamento permitiu, também, que mais grupos organizados de peregrinos confirmassem a sua presença, vindos de vários pontos de Portugal e também do estrangeiro: Itália, França, Espanha, Alemanha, Bélgica, El Salvador, Eslováquia, Irlanda, Polónia, Reino Unido, Estados Unidos da América, Suíça e Holanda.
Em todo o recinto, tal como D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, adiantou esta tarde, viu-se "um novo colorido" provocado pelas velas nas mãos dos peregrinos agora sem número que ali se deslocaram. Embora com distanciamento e uso de máscaras, o Santuário parece assim regressar ao que era antes da pandemia.
Na homilia da celebração desta noite, presidida pelo arcebispo de Salvador da Bahia e primaz do Brasil, o cardeal D. Sérgio da Rocha, o destaque foi para as consequências da covid-19.
"Queridos irmãos e irmãs, a Palavra de Deus nos traz esperança e paz, neste tempo tão difícil da pandemia, com tantos desafios para cada um de nós, para nossas famílias e comunidades. Estamos muito unidos, em oração, aos irmãos e irmãs que mais sofrem e buscam refúgio e proteção no coração materno de Nossa Senhora", começou por dizer.
"Nós entregamos, com confiança, à Mãe de Jesus e nossa Mãe, os clamores de tantos irmãos e irmãs que sofrem as consequências da pandemia, especialmente, os enfermos, os pobres e as família enlutadas. Neste tempo de provação, nós levantamos o olhar confiante para a Senhora de Fátima; recorremos à sua intercessão para suplicar a Jesus por nós e pelos que mais sofrem, a fim de alcançarmos a força espiritual necessária, a esperança e a paz", completou.
Posteriormente, questionando "de onde vem a nossa esperança e a força para continuar a caminhar sem desanimar", o arcebispo brasileiro lembrou que "a Palavra de Deus nos dá a resposta, pois nos traz a certeza de contar sempre com a presença amorosa de Jesus" e que Maria, "pela encarnação do Verbo, se torna a morada de Deus com os homens".
"Em Fátima, neste querido Santuário, por meio de sua materna intercessão, a nossa oração chega a Jesus. Por meio dela, com o seu exemplo, nós aprendemos a seguir a Jesus. Nós recordamos, hoje, com louvor e confiança, as palavras de Nossa Senhora a Lúcia: 'E tu, sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus'", citou D. Sérgio da Rocha.
Referindo, assim, que nesta peregrinação se está a "refazer a experiência dos Pastorinhos de Fátima", o cardeal citou o Santo Padre. "O Papa Francisco, em visita a este querido Santuário, assim se expressou tendo diante dos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta: 'Daqui lhes vinha a força para superar as contrariedades e sofrimentos. A presença divina tornou-se constante nas suas vidas, como se manifesta claramente na súplica instante pelos pecadores e no desejo permanente de estar junto a ‘Jesus escondido’ no Sacrário'".
"Nós também aqui encontramos, hoje, 'a força para superar as contrariedades e sofrimentos'", acrescentou. "Devemos olhar, mais uma vez, para Maria, Senhora do Rosário de Fátima, e aprender com ela a cumprir a vontade de Deus e a pôr em prática a sua palavra, em qualquer situação, seja diante do anúncio alegre do nascimento do Salvador, seja perante a cruz", apontou.
D. Sérgio da Rocha lembrou, ainda, que "peregrinar é dom, é graça, mas também é compromisso, oportunidade singular para dar passos de conversão e vida nova".
"Em Fátima, Nossa Senhora continua a convidar-nos à conversão, à oração e à penitência. Por isso, é importante refletir: quais são os passos que Deus espera de nós, nesta peregrinação? Peregrinar exige passos na caminhada, com o coração voltado para o Senhor e o olhar confiante em Nossa Senhora, atentos aos irmãos que caminham connosco, ao próximo que deve ser reconhecido e amado como irmão", referiu, deixando de seguida um apelo.
"Nós somos chamados a caminhar unidos, com a Igreja e como Igreja. Entretanto, devemos dar uma atenção especial a quem não consegue caminhar porque se encontra fragilizado, sofrido. É preciso lembrar-se, com especial atenção, das ovelhas feridas e errantes do rebanho, pois a todas Jesus quer conduzir e salvar. É ele quem nos estende as mãos convidando-nos a levantar-nos, quando caímos ou nos sentimos fracos, animando-nos a seguir adiante com fé e coragem", observou.
Desta forma, referiu, "somos chamados a estender as nossas mãos para os que mais sofrem. As mãos que se erguem em oração confiante devem ser também mãos que se estendem na caridade para com o próximo mais sofredor", rematou.
A peregrinação começou oficialmente hoje, às 21:30, com a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, seguida de procissão das velas e celebração no altar do recinto. Como tem sido hábito neste tempo pandémico, a habitual vigília de oração não se realizou, pelo que as cerimónias terminaram com a procissão do silêncio.
No dia 13, quarta-feira, às 09:00, terá lugar a recitação do terço, seguida de missa internacional, com a palavra ao doente e procissão do Adeus.
Esta peregrinação, que celebra a 6.ª Aparição de Nossa Senhora, com particular destaque para o chamado “Milagre do Sol”, é a última grande Peregrinação Aniversária de um ano pastoral ainda muito marcado pela pandemia, pelo que, "apesar de nesta data estar em curso um progressivo e responsável desconfinamento, será obrigatório o uso da máscara e a higienização das mãos à entrada do Recinto".
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