Quem é Pelicot? Perante o tribunal de Avignon, no sul de França, os especialistas investigaram o perfil deste homem de 71 anos, que é julgado juntamente com outros 50 homens por violação com agravantes, o que pode levar até 20 anos de prisão.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

Avô "carinhoso" e "super bom" de dia, para a agora ex-mulher, mas violador à noite. Um primeiro psicólogo começou a delinear na sexta-feira as "duas caras" deste "manipulador perverso".

"De dia, pode ser coerente, e à noite, parecer diferente", declarou o especialista Bruno Daunizeau.

Por um lado, é descrito como um "marido, pai e avô honrado, e um amigo querido", mas, simultaneamente, como alguém "muito manipulador, que mente muito", acrescentou nesta segunda-feira o psiquiatra Paul Bensussan.

"A sua personalidade tem duas caras: por um lado, é um patriarca em quem as pessoas próximas podem confiar" e, por outro, "usa mentiras e sigilo", declarou a psicóloga Marianne Douteau, que o descreve como "raivoso".

Estas características seriam semelhantes às de seu pai, que ele odiava, segundo Douteau. Os seus pais administravam um hotel-restaurante e ele trabalhou na indústria nuclear antes de entrar no mercado imobiliário, com pouco sucesso.

"A sexualidade do senhor Pelicot parece calcada na sua personalidade: comum em público, mas para sua parceira ele tem uma sexualidade tenaz", explicou Douteau.

A psicóloga citou como exemplo a troca de casais que a mulher e principal vítima, Gisèle Pelicot, rejeitou categoricamente e que o acusado compensava "utilizando sites de chat pornográficos".

O acusado tem "fantasias obsessivas", segundo Bensussan. Por um lado, descreve suas relações com a mulher como "dentro da normalidade", mas, por outro, gosta de voyeurismo e exibicionismo, explicou.

"O voyeurismo faz parte da sua dinâmica psicossexual", confirmou a psicóloga Annabelle Montagne, ressaltando o seu "egocentrismo" e sua "propensão a considerar os outros como objetos manipuláveis".

Drogava Gisèle Pelicot, de quem se divorciou em agosto, com substâncias para dormir, para que dezenas de desconhecidos a violassem entre 2011 e 2020, primeiro na região de Paris e depois em Mazan, no sul de França.

"O facto de a pessoa ser totalmente passiva pode apontar para fantasias de necrofilia", disse Montagne, para quem a violação que Dominique Pelicot afirma ter sofrido aos nove anos por um enfermeiro pode ter afetado sua psique.

"Pessoas comuns"

Até ter sido preso em 2020, o acusado ajudava os netos, que o adoravam, com seus deveres de casa e acompanhava-os em atividades desportivas. Ele também andava de bicicleta com os vizinhos no icónico Mont Ventoux, perto de sua casa em Mazan.

"A sua reforma e a mudança do casal [para Mazan] podem ter enfraquecido as barreiras defensivas de sua psique", declarou Montagne. Mas para Bensussan, Dominique Pelicot não sofre de "nenhuma patologia ou anomalia mental".

"Pessoas comuns geralmente realizam atos extraordinários", resumiu outro psiquiatra, Laurent Layet, ressaltando que "a maioria das loucuras não é cometida por pessoas loucas".

Depois do depoimento da ex-mulher e da filha na semana passada, o primeiro interrogatório do acusado deverá ocorrer na tarde de terça-feira.

Ausentou-se da audiência desta segunda devido a dores intestinais e parecia muito fraco quando entrou no banco dos réus, apoiado numa bengala, observou um jornalista da AFP presente na sala.

Nesta segunda-feira, os seus advogados anunciaram à imprensa que vão apresentar queixa por ameaças após os dados pessoais dos 51 acusados terem sido divulgados nas redes sociais.