“Nas próximas décadas veremos a transplantação ser progressivamente substituída pelo coração artificial e outras formas de assistência ventricular mecânica”, refere o cirurgião cardiotorácico Manuel Antunes, presidente honorário da Sociedade, a propósito do Dia do Transplante, que hoje se assinala.
O número de dadores de coração tem vindo a diminuir e a qualidade dos dadores também constitui uma ameaça à transplantação cardiovascular.
Só em Portugal as doenças terminais como a insuficiência cardíaca atingem cerca de 400 mil pessoas e em todo o mundo afetam cerca de 26 milhões, não existindo corações suficientes.
Assim, os dadores “nunca serão suficientes para as necessidades”, daí que o caminho futuro seja a progressiva substituição da transplantação pelos corações artificiais e outras formas mecânicas.
Por isso, a ciência tem apostado no desenvolvimento de procedimentos experimentais, como a implementação de dispositivos que mantêm a circulação através do bombardeamento artificial.
Um exemplo sublinhado pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia é o do coração recelularizado funcional, desenvolvido no ano passado no Centro de Medicina Regenerativa em Boston.
Outro dos casos é o do coração de silicone desenvolvido já este ano no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique.
Estas opções ainda se encontram em desenvolvimento mas são consideradas pelos especialistas como uma “janela de oportunidade para um futuro promissor” no tratamento de doentes com insuficiência cardíaca em fase avançada e para quando os tratamentos convencionais já não são suficientes.
O transplante cardíaco é um procedimento reservado para situações de doença do músculo cardíaco que não são passíveis de tratamento médico ou cirúrgico convencional. E só são elegíveis para transplante os doentes que após cirurgia garantem o “cumprimento absoluto” das indicações médicas.
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia recorda que o primeiro transplante cardíaco foi realizado em 1967.
Coração artificial chegou a Portugal há quatro meses
O primeiro implante de um coração artificial bem sucedido ocorreu em março num doente de 64 anos, numa intervenção feita no Hospital de Santa Marta pela equipa do cirurgião José Fragata, pioneiro em várias intervenções na área cardiotorácica em Portugal.
O doente sofria de insuficiência cardíaca e não podia receber um coração transplantado devido aos danos que lhe provocaria, nos rins, a medicação.
A solução passaria por um coração transplantado, mas o facto de o doente sofrer de doença renal e por causa dos efeitos nos rins dos fármacos para a imunodepressão, essa hipótese foi posta de lado.
Assim, em março, este doente português juntou-se, aos 1.200 que em todo o mundo, na altura, tinham já recebido um coração artificial daquela geração, podendo chegar a viver 11 a 12 anos.
Trata-se de “uma bomba muito diferenciada, que funciona por levitação magnética, aspira o sangue da ponta esquerda do coração e injeta na aorta e que está ligada por uma 'drive line' que sai pela parede abdominal do doente e que se liga a um conjunto de baterias”, explicou, na altura, o cirurgião José Fragata.
No fundo, comparando, “é como um telemóvel que tem carga de 17 horas e que à noite é preciso ligar a um carregador”.
Das 20 a 30 pessoas que aguardam por um transplante de coração em Portugal, este coração artificial deverá ser uma resposta para “quatro, cinco ou seis”, estima José Fragata.
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