A Linha do Oeste “continua sujeita à supressão de comboios, num calvário para os passageiros que se agrava a cada dia que passa”, alertou hoje Rui Raposo, porta-voz da Comissão de Defesa da Linha do Oeste.
“Há uma média de oito a nove supressões em 32 horários diários nesta linha”, disse à agência Lusa o mesmo responsável, defendendo a “tomada de medidas para impedir que se retome a intenção de encerrar esta linha”.
A preocupação levou hoje a comissão a lançar, nas Caldas da Rainha, uma petição para que a Assembleia da República “delibere no sentido de obrigar o Governo a dotar a Infraestruturas de Portugal, SA (IP, SA), dos meios necessários à modernização da Linha do Oeste” e a Comboios de Portugal (CP) “das disponibilidades financeiras adequadas para a aquisição urgente do material circulante”.
Na petição, a comissão atribui a supressão de comboios na linha que liga o Cacém a Coimbra à “falta de material circulante, cada vez mais envelhecido e sem possibilidade de reparação ou substituição”.
A antiguidade das composições leva, segundo a comissão, a que os passageiros sejam sujeitos “a períodos de espera prolongados pelo comboio seguinte” ou, em alternativa, “que sejam transportados em autocarros com percursos que demoram muitas vezes o dobro do tempo”.
De acordo com a petição hoje lançada, “desde o início de 2017 que os passageiros passam por um verdadeiro martírio, já que estão sistematicamente sujeitos à incerteza de haver ou não haver comboio e sem qualquer informação ou pedido de desculpas por parte da CP”.
Tanto mais que “a grande maioria das estações e apeadeiros, estão encerrados ou não têm pessoal e é inexistente qualquer serviço eletrónico de indicação dos horários ou alterações”, pode ler-se no documento.
Para a Comissão, trata-se de “um reiterado incumprimento da obrigação do Governo em fornecer, através da CP, um serviço público de qualidade, de transporte público de passageiros” que “poderá pôr em causa o futuro da Linha “, dado não haver indicações de a situação “vir a ser corrigida a curto prazo de forma consistente”.
Considerando tratar-se de uma Linha que “reúne potencialidades inigualáveis como fator de desenvolvimento económico e social da região do Oeste, como meio de ligação entre as regiões de Lisboa, Leiria e Coimbra e como troço ferroviário alternativo à Linha do Norte”, a Comissão exige ao Governo que viabilize a sua modernização e dote a CP de meios “para que as composições sejam substituídas a breve prazo”, explicou Rui Raposo.
O objetivo da Comissão é “reunir pelo menos 4.000 assinaturas” para que a petição possa ser discutida em plenário na Assembleia da República, mas Rui Raposo adiantou à Lusa a intenção de “avançar em breve com outras ações de protesto”.
Entre elas, “uma vigília contra a sistemática supressão de comboios” e “a realização de um passeio de comboio entre as Caldas da Rainha e local ainda a definir, em defesa da Linha do Oeste”, adiantou.
A Linha do Oeste foi renovada entre 1990 e 2004 mas, desde então, a degradação do serviço de passageiros e a morosidade das ligações a Lisboa e à Figueira da Foz levou a um gradual abandono e redução de utilizadores.
O Governo de Passos Coelho anunciou, em 2011, a intenção de acabar com o transporte de passageiros entre as Caldas da Rainha e a Figueira da Foz, o que gerou protestos das populações servidas pelo comboio.
Um estudo encomendado pela Câmara das Caldas da Rainha sustentou a viabilidade da linha com base numa alteração do percurso (com ligação a Coimbra) e o ajustamento de horários, que o anterior Governo acedeu a implementar e que resultou num aumento dos passageiros.
O Governo aprovou a requalificação do troço no âmbito Plano de Investimentos em Infraestruturas – Ferrovia 2020, que previa o início das obras em construção em finais de 2017, mas que ainda não se verificou.
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