Desde o início, a equipa de defesa tem tentado retratar Cohen, uma testemunha-chave, como um ex-funcionário descontente à procura busca de vingança.

Trump é acusado de 34 crimes de falsificação de registos empresariais para disfarçar como despesas legais o pagamento de 130 mil dólares à ex-atriz pornográfica Stormy Daniels na reta final das eleições de 2016, nas quais derrotou Hillary Clinton.

Sob o olhar atento do magnata de 77 anos, que parecia mais alerta nesta quinta-feira do que nos dias anteriores, o advogado de defesa Todd Blanche começou a sua segunda ronda de interrogatórios enfatizando o histórico de mentiras de Cohen.

Além de listar as suas mentiras, a defesa também reproduziu excertos de um podcast no qual ele falava com frequência sobre o ex-presidente. "Pode acreditar que quero ver esse tipo cair", disse num episódio de 2020.

Cohen, de 57 anos, afirmou repetidamente nos interrogatórios que assume a "responsabilidade" pelas suas ações e que enfrentou as consequências. Foi condenado a três anos de prisão em 2018 por mentir ao Congresso e por fraude eleitoral e fiscal neste caso.

Trump, por sua vez, tem se queixado que o julgamento está a impedi-lo de realizar a sua campanha para regressar à Casa Branca nas eleições de novembro.

Numa tentativa de politizar o julgamento, nos últimos dias o ex-presidente americano foi acompanhado por congressistas republicanos na antiga sala do tribunal criminal de Manhattan. Nesta quinta-feira foi a vez de Matt Gaetz e Lauren Boebert.

Fora do tribunal, Trump voltou a reclamar da "fraude que é tudo isto". "Estou aqui sentado há quase quatro semanas. E ainda temos um longo caminho pela frente", disse.

O interrogatório de Cohen continuará na próxima segunda-feira já que esta sexta Trump comparecerá à cerimónia de formatura do seu filho mais novo, Barron, na Flórida.

Blanche tentou irritar Cohen, conhecido pelo seu temperamento explosivo, após um início de semana relativamente entediante que levou alguns membros do júri a começarem a bocejar. Mas Cohen, que era um "faz-tudo" do ex-presidente, não caiu na armadilha.

Nesta quinta-feira, quando Blanche tentava fazê-lo cair numa mentira sobre uma chamada feita ao guarda-costas de Trump, o advogado do ex-presidente esforçou-se para aumentar o drama, elevando o seu tom de voz. "Isto era mentira", disse Blanche. "Admita." Mas Cohen respondeu: "Não, senhor [...] Não posso".

A Procuradoria informou que Cohen é a sua última testemunha no caso.

A sua versão coincide com a de outras duas testemunhas importantes: Stormy Daniels, que diz ter recebido o dinheiro, e David Pecker, o ex-editor de tabloides que afirmou ter trabalhado com Trump e Cohen para suprimir a cobertura negativa do candidato à Casa Branca durante a sua primeira campanha e comprar o silêncio de outras denunciantes.

Ainda não é claro se Trump, que nega ter tido qualquer caso sexual com Daniels, irá depor. O candidato republicano é conhecido por considerar-se o seu melhor defensor, mas analistas acreditam que isso poderia ser prejudicial.

Quando o júri começar a deliberar, é possível que semanas de depoimentos muitas vezes sensacionalistas permaneçam nas suas mentes, mas eles também terão pilhas de documentos para examinar.

Os 12 membros do júri terão de determinar por unanimidade se o magnata ordenou a falsificação de documentos e se o fez com a intenção de influenciar o voto presidencial de 2016.

Os procuradores detalharam minuciosamente nesta semana os supostos crimes, como a emissão de 11 cheques — a maioria assinada por Trump — em troca de faturas que, segundo Cohen, foram falsificadas para encobrir o reembolso do dinheiro pelo silêncio.

Se Trump não testemunhar, os argumentos finais podem começar na terça-feira. Depois, o júri retirar-se-á para deliberar e selar o destino do ex-presidente, que alega ser vítima de uma caça às bruxas e de interferência eleitoral.