O cineasta Andy Warhol disse que “toda a gente tem direito aos seus 15 minutos de fama”. Gary Johnson não pensava é que o seu momento fosse marcado por uma indecisão, numa pergunta que parecia simples. No momento em que foi questionado sobre o que iria fazer sobre Alepo se vencesse as eleições, o candidato presidencial do Partido Libertário respondeu: “O que é Alepo?”
Well you can add #GaryJohnson to the list of useless #USA presidential candidates #Election2016 @politico #Allepo pic.twitter.com/ig1YKdb7sJ
— Philipp-A. Schmidt (@paschmidt13) 10 de setembro de 2016
As tendências de uma campanha política deixaram-se de se medir exclusivamente pelo tempo em que está “no ar” numa qualquer televisão. Trending, partilhas e comentários elevam à escala global uma gafe ou um momento viral.
Johnson foi uma vítima daquilo que o levou a chegar mais longe: a internet
Johnson sabe como chegar aos millennials. A comunicação da campanha é feita com memes, imagens que recorrem ao humor. As ideias liberais, como a defesa da legalização da marijuana ou a posição pró-casamento homossexual, também acabam por atrair esta classe etária.
Pela primeira primeira vez desde 1992, o rumo da eleição pode ser definido por outsiders. Isto não quer dizer que haja alguém que tenha probabilidades de chegar à Casa Branca fora do esquema tradicional dos dois grandes partidos, mas uma concorrência forte por parte dos pequenos candidatos ajuda a distribuir os votos e atrapalhar a vida aos dois principais candidatos, Hillary Clinton e Donald Trump, que têm entre si uma margem curta nas intenções de voto.
A internet acaba, assim, por disseminar o baixo grau de preparação, nomeadamente em questões de política externa. No fundo, Johnson é um dos 9 em cada 10 americanos que não sabe o que é Alepo. A política externa acaba por não ser um fator forte nos americanos, se há vida para além do próprio país, isto acaba por não se refletir nos alinhamentos dos noticiários e isso parece não querer importar.
Libertário, eu?
Gary Jonhson foi o senador, eleito pelo Partido Republicano, do Novo México. Em 2011, mudou de cor política e decidiu ingressar no Partido Libertário. Há quatro anos, quando concorreu contra Obama e Mitt Romney, não chegou a ter 1% dos votos. Hoje, as sondagens multiplicam por sete as intenções de voto neste candidato.
“És um libertário e se calhar nem sabes”, diz Jonhson descontraído numa entrevista a uma televisão, antes de mais um comício. Chega de camisa e calças de ganga, não atrai multidões, mas é bastante aplaudido pela postura descontraída que assume.
São liberais sociais e no quadro económico assumem-se como conservadores.
“O próximo presidente dos Estados Unidos, Gary Jonhson”, diz o speaker que o introduz. Gary discursa em cima de um coreto de pedra no meio de um jardim. À frente tem um púlpito de madeira e um distanciamento muito reduzido em relação ao público que se deslocou para o ver. “You rock, you rock, thank you!” (vocês são os maiores, obrigada!), diz Jonhson após ser ovacionado por centenas de pessoas.
Quanto menos governo, melhor
A ideologia do Partido Libertário baseia-se no princípio da defesa das liberdades individuais. A liberdade de escolha, de associação, a defesa da propriedade individual e o princípio da não-agressão, definem os princípios deste partido fundado há 45 anos.
Para um libertário, a tua liberdade individual só acaba quando começa a do outro. Num principio prático, ser libertário é querer o governo fora dos seus “bolsos”. Não querem o executivo na sua internet, nem nas suas escolas e defendem o fim do IRS. Aceitam o casamento homossexual, o direito ao aborto e acreditam que os adultos têm o direito a fumar marijuana, mas Johnson diz que não fuma.
Os libertários acreditam no direito de ter armas e são contra as restrições de fumo em restaurantes ou bares: “Se estás na tua casa, tu é que decides se os teus convidados fumam ou não, se estás no teu restaurante, porque há de ser o governo a dizer-te se podes fumar ou não?” São liberais sociais e no quadro económico assumem-se como conservadores.
Os seus comícios atraem poucas centenas de pessoas. As probabilidades de Johnson chegar à Casa Branca fixam-se em menos 1%. Mas Johnson responde com ironia: “Donald Trump também tinha 1% de probabilidades quando anunciou a candidatura”. E garante, “nenhum de nós tinha entrado nesta corrida se não tivesse chances de vencer”.
Uma campanha de gafes
Johnson não se ficou por Alepo no desconhecimento da política internacional. Num debate do estilo Town Hall, em que pessoas fazem perguntas diretamente aos candidatos, Johnson foi questionado sobre que líder internacional admirava.
À careta inicial, surgiu uma imediata expressão de desconhecimento. O seu vice-presidente, Bill Weld, ainda falou em Shimon Peres, antigo Primeiro-ministro de Israel. Jonhson pensou e perante a insistência do jornalista disse “o antigo presidente do México”. Não satisfeito com a resposta, o moderador do debate perguntou “Qual deles?”. Ao qual se seguiu um suspiro e um pedido de desculpas.
Uh, Gary Johnson couldn't remember the name of a single world leader he respects. pic.twitter.com/GHFPocWTri — AJ+ (@ajplus) 29 de setembro de 2016
Houve quem perguntasse a Johnson se achava que, por não saber o que é Alepo, tinha qualidades para ser presidente. O candidato do Partido Libertário respondeu: “sou humano e 90% dos americanos também não sabe o que é Alepo. Alepo é um sitio importante, mas é só um nome de um sítio. É isso que me desqualifica de ser presidente?”
Talvez não seja só isso, mas são várias as falhas. E, por isso, a internet reage e pergunta ao Google: O que é que Gary Jonhson não sabe?
Um estado libertário
E se todos os libertários dos Estados Unidos se mudassem para um só estado? Se podemos conquistar um todo a partir de uma parte, o Free State Project foi a maneira de o Partido Libertário o conseguir.
O objetivo era simples, com todos os eleitores no mesmo estado não havia de ser complicado eleger representantes para os órgãos de soberania locais e assim ir conseguindo transformar o New Hampshire num projeto piloto do liberalismo no mundo. E se corresse bem, quem sabe se não pudesse ser aplicado noutros estados.
Sete em cada dez americanos nem sequer sabe quem é Gary Jonhson.
20 mil pessoas já disseram que sim ao Free State Project. O problema é que desses só perto de 2 mil pessoas se mudaram efetivamente para o estado do nordeste norte-americano. O que leva alguns a duvidarem do sucesso da iniciativa, para além das várias criticas feitas pelos residentes de New Hampshire, um estado de maioria democrata.
Na última eleição presidencial, Jonhson também tinha concorrido neste estado e recolheu cerca de 8 mil votos, pouco mais de 1%, numa eleição ganha por Barack Obama.
Uma campanha sem aviões
Se Donald Trump e Hillary Clinton viajam em comitiva nos seus próprios aviões, Johnson não tem aviões de campanha. “Ficamos em casa de outras pessoas no período de campanha, quando viajamos pelo país não ficamos em hotéis”, diz.
Gary Johnson pode não saber o necessário para estar preparado para ser presidente dos Estados Unidos. Mas sete em cada dez americanos nem sequer sabem quem ele é.
Certo é que muitos veem Jonhson como uma alternativa aos dois candidatos dos principais partidos, Hillary Clinton e Donald Trump. Candidatos que nunca tiveram níveis de popularidade tão baixos como nesta corrida à Casa Branca.
Faltam 24 dias para as Eleições Presidenciais Americanas.
Esta é uma reportagem que está inserida num especial rumo às Eleições Americanas que se realizam a 8 de novembro deste ano.
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