“Temos tido vários sinais que nos ajudam a perceber que a situação se foi alterando e que o poder político hoje olha com um olhar menos preconceituoso para Fátima, muito mais liberto e, por isso também, muito mais objetivo, procurando ver a mais-valia que Fátima significa para o conjunto do país”, disse o padre Carlos Cabecinhas em entrevista à agência Lusa.

Segundo Carlos Cabecinhas, que em 2015 afirmou que o poder político se envergonhava de Fátima, onde peregrina o papa Francisco a 12 e 13 de maio, assistiu-se, “ao longo destes anos que precederam” 2017, a alguma mudança.

“Eu chamava a atenção nessa altura que, por exemplo, o Turismo dava pouca atenção a Fátima e o turismo religioso, em geral, continuava a ser visto como uma dimensão menor do turismo nacional”, referiu, notando que hoje “os responsáveis começam a ter a perceção do peso que tem o turismo religioso no conjunto da procura turística portuguesa”.

Para o reitor, a mudança não se deve apenas ao trabalho que o santuário fez, “mas com os vários intervenientes sociais e da sociedade civil a este nível” que levaram “a ver o turismo religioso com outros olhos”, o que permite dizer que “parece que o poder político já não tem os preconceitos que antes tinha em relação a Fátima”.

O responsável adiantou que “o Governo tem manifestado, desde que iniciou funções, toda a disponibilidade para colaborar numa celebração do centenário das aparições que fique marcada como momento particularmente importante na história de Fátima e do país, sem qualquer compromisso, obviamente, confessional”.

“Por parte do santuário também temos sentido toda a colaboração do poder politico a este nível, mantendo-se toda a autonomia das diversas esferas, no sentido de que o santuário mantém toda a sua autonomia em relação ao poder político – não vive de ajudas estatais -, como também o Estado e o Governo não tentaram, de alguma forma, implicar o santuário naquilo que são as suas ações”, referiu, destacando que tem existido “uma ótima relação nesta promoção deste acontecimento único”.

À pergunta se não deixa de ser uma ironia, dado tratar-se de um Governo de esquerda, liderado pelo PS e suportado pelo BE, PCP e PEV, Carlos Cabecinhas escusou-se a comentar esta matéria.

“Como se compreenderá não quero entrar minimamente na questão partidária, se são governos de esquerda ou de direita. Em relação a isso, cabe-me objetivamente confirmar aquilo que são as atitudes tomadas e as opções apresentadas, e não fazer uma valoração do facto de ser um governo de esquerda ou de direita”, acrescentou.

Francisco será o quarto papa a visitar Fátima, a 12 e 13 de maio, para presidir ao centenário das “aparições” na Cova da Iria, tendo também previstos encontros com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro, António Costa.

Os anteriores papas a estar em Fátima foram Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991, 2000) e Bento XVI (2010).