Algumas pedras e engenhos pirotécnicos foram atirados quando os polícias entraram na pequena localidade de Luetzerath, que se tornou um ponto de debate sobre os esforços de defesa do clima no país, noticiou a agência Associated Press (AP).

O porta-voz da polícia, Andreas Mueller, referiu que os ataques aos agentes “não foram legais”, mas observou que a maior parte do protesto até agora foi pacífico.

A mesma fonte acrescentou que a polícia vai manter a sua estratégia para tentar evitar qualquer escalada de tensões, disponibilizando-se para permitir que qualquer ativista possa sair por conta própria sem enfrentar novas medidas policiais ou processos judiciais.

Ainda assim, alguns manifestantes reclamaram o uso de força indevida da polícia e outros disseram que a escala da resposta da polícia, que mobilizou agentes de todo o país e tem canhões de água de prontidão, foi em si uma forma de escalada não justificada pelo protesto pacífico.

Esta quarta-feira à tarde, dezenas de ativistas permaneciam acampados em Luetzerath, alguns em elaboradas casas nas árvores, enquanto a polícia se movia lentamente pela aldeia a limpar as barricadas e um refeitório comunitário.

Alguns ativistas liam livros ou tocavam acordeão. Outros sentaram-se ou ficaram de pé nos telhados dos edifícios remanescentes de Luetzerath, apesar do vento frio.

“Estou com muito medo hoje”, destacou Petra Mueller, uma moradora de 53 anos que estava no local há vários dias, de uma janela do último andar de uma das poucas casas remanescentes. Mueller realçou que ainda tem esperança de preservar o que resta de Luetzerath “até que nada fique de pé”.

Os ambientalistas consideram que demolir a vila para expandir a mina de carvão Garzweiler nas proximidades resultará em enormes quantidades de emissões de gases de efeito estufa.

O governo e a empresa energética RWE argumentam que o carvão é necessário para garantir a segurança energética da Alemanha.

No entanto, um estudo do Instituto Alemão de Investigação Económica questiona a postura do governo, depois de ter sido divulgado que outros campos de carvão existentes poderiam ser usados, embora o custo para a RWE fosse maior.

Outra alternativa seria a Alemanha aumentar a produção de energia renovável, reduzir a procura através de medidas de eficiência energética ou importar mais carvão ou gás a outros países, segundo o mesmo estudo.

Com base nas conclusões do estudo, e alertando para a necessidade urgente de reduzir as emissões de carbono, os manifestantes recusaram-se a aceitar a decisão judicial desta segunda-feira, que efetivamente os baniu daquela localidade.

Alguns dos ativistas manifestaram criticas particulares ao partido ambientalista Verde, que faz parte dos governos regional e nacional que chegaram a um acordo com a RWE no ano passado, que permite destruir a vila em troca do fim do uso do carvão até 2030, em vez de 2038.

O vice-chanceler Robert Habeck, do partido ambientalista e ministro da Economia e do Clima da Alemanha, defendeu o acordo como “uma boa decisão para a proteção do clima” que atende a muitas das exigências dos ambientalistas e salva cinco outras aldeias da demolição.

Por outro lado, os ativistas climáticos argumentam que a expansão de uma enorme mina de carvão a céu aberto vai contra os compromissos internacionais da Alemanha de reduzir as emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta.