“Não estava preparada. Antes dos primeiros atentados ninguém esperava que essas coisas pudessem acontecer em França, nem polícias nem governo. Hoje estamos a recuperar essa formação que é precisa, de maneira a nos adaptarmos a esses novos crimes”, explicou Antero Ferreira, Diretor da Polícia Municipal de Joinville-le-Pont, nos arredores de Paris.

Exemplo da falta de preparação da polícia face aos atentados é a questão das armas, disse o comandante, detalhando que a “alguns serviços de polícia trocaram-lhes as armas” e que “a polícia começa a ter espingardas, começa a ter balas que são mais eficazes”: “Hoje as armas, as pistolas que temos na polícia não dão para atravessar um colete para-balas mas as balas deles dão para atravessar os nossos coletes.”

Para reforçar a vigilância nos espaços públicos mais frequentados também se veem soldados porque “não há polícias que chegue” para garantir a “segurança em todo o território nacional”, continuou o comandante lusodescendente, com raízes familiares no distrito da Guarda.

“Tem sido muito complicado porque temos de fazer o serviço como fazíamos antigamente, o serviço de segurança pública, e ser vigilantes ao terrorismo, ao público que pede muito mais presença dos polícias. Hoje, por exemplo, não pode haver uma manifestação municipal ou mesmo do Estado sem presença da polícia. Onde se junta o povo, ali tem que estar a polícia para verificar as pessoas e as bagagens mas também para tomar sentido no que se passa à volta em termos de segurança”, descreveu.

Antero Ferreira assistiu à intensificação da mobilização policial desde os atentados de 13 de novembro do ano passado e já tinha perdido uma aluna nos atentados de janeiro de 2015 quando Amedy Coullibaly disparou contra a agente à queima-roupa, “só por ter a farda da polícia”, em plena rua, um dia antes de atacar um supermercado judaico em Paris.

“É uma coisa nova, os serviços de polícia tiveram que se adaptar porque quem é que pode ser terrorista e quem é que pode não ser terrorista? Não se inventa. Tivemos que aprender, pronto, há certos comportamentos que dão nas vistas de um polícia que não dão nas vistas de um utente normal”, afirmou.

Antero Ferreira explicou que “desde os primeiros atentados, a polícia tem que andar mais a vigiar nas gares, nas estações de comboios, de autocarros” porque as pessoas estão preocupadas e “só [com] a presença da polícia já se sentem mais em segurança”, ainda que acredite que vá haver novos atentados em França enquanto persistir a existência do autodenominado grupo Estado Islâmico.

O terrorismo “só se poderá travar quando o ?Daesh’ desaparecer porque hoje, mesmo se a polícia controla as passagens para a Síria, os que vêm de lá para cá e os que vão de cá para lá (?) Houve terroristas que entraram com esses migrantes com passaportes falsos. Hoje, não se pode lutar enquanto não tivermos as fronteiras da Europa completamente controladas, não se vai poder lutar contra isso, só desaparecendo o Daesh”, acrescentou.

O comandante alertou que o jihadismo e a radicalização islamita em França afetam diferentes nacionalidades, incluindo portugueses e lusodescendentes, e lembrou que as forças policiais também são alvos dos jihadistas, como o casal de polícias que foi assassinado dentro de casa em junho.

“Os polícias, como os outros homens, só são homens. Portanto, eu quando saio do serviço também tenho de ter cuidado com o que vem atrás de mim, com o que se passa à volta de mim. Ouviram falar há pouco tempo dos polícias que foram mortos em casa? Não podemos dissociar hoje a nossa função de polícia da nossa vida de homem e temos que nos proteger e proteger a nossa família. Nós também temos dor de barriga com essas coisas”, admitiu.