“Este projeto foi concebido a partir da realidade dos sem-abrigo em Viana do Castelo e que é transversal ao resto do país. Na maioria dos casos, as pessoas vivem na rua por decisão própria. Em Viana do Castelo, existe alojamento em instituições que trabalham na área, mas as pessoas não querem sujeitar-se às regras dessas respostas. O que procurámos com este projeto foi transpor o seu modo de vida na rua para um espaço onde não precisam de cumprir regras”, explicou o professor Manuel Rivas.

O coordenador do curso de Design de Interiores da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) explicou que o Schelter On foi “concebido para pessoas com mobilidade reduzida” e para se integrar no “contexto urbano e não ser um elemento perturbador da população”.

“É como se fosse um elemento de mobiliário urbano. Não é uma cama ou um quarto. É mobiliário urbano que tem a função de acolher pessoas a viver em situação de sem-abrigo”, explicou o docente.

Manuel Rivas acrescentou que o projeto foi apresentado no final de 2022 numa reunião na Câmara de Viana do Castelo, que juntou entidades das áreas da saúde, justiça, forças policiais, proteção civil e instituições que trabalham na área social como a associação Methamorphys e o Gabinete de Atendimento à Família (GAF).

“A Câmara de Viana do Castelo está muito interessada no projeto. A ideia é instalar um protótipo na cidade e avaliar, durante seis meses, o seu funcionamento. Ouvir a opinião dos próprios utentes para o melhorar e encontrar soluções que permitam mais facilidade na sua construção”, explicou.

Manuel Rivas adiantou não estar definida a data para a instalação do protótipo por estar dependente da “assinatura de um protocolo com a Câmara de Viana do Castelo” e da “disponibilidade da empresa que o vai construir”.

Segundo Manuel Rivas, “este projeto-piloto não pretende fidelizar as pessoas, muito menos ter regras e horários de entrada. O projeto baseia-se na premissa de dignificar a vida dos sem-abrigo, dando-lhes um espaço para dormir e tomar um banho”.

O “Schelter On consiste num dormitório com espaços individuais – quarto e casa de banho –, caracterizado por uma maior autonomia da pessoa em situação de sem-abrigo”.

O projeto foi desenvolvido pela estudante do mestrado em Design Integrado da ESTG Bruna Freire, com o apoio do Grupo de Trabalho em Design (GTD), constituído em 2021 e composto pelos docentes Rosa Venâncio, Manuel Rivas, Liliana Soares, Ermanno Aparo, Rui Cavaleiro e Jorge Teixeira, da Methamorphys, do GAF e da Câmara de Viana do Castelo.

“Constatámos que há muitas respostas para acolher pessoas em situações de guerra ou causadas pelas alterações climáticas. Os sem-abrigo representam um problema social que está à vista de todos, mas que não tem tido o tratamento que têm outras situações”, apontou.

O projeto foi hoje apresentado na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril de 1974, com a temática da habitação.