“Estas considerações são reais. A possibilidade de fechar a fronteira existe”, disse Arnoldas Abramavicius, lembrando que o grupo de mercenários tem causado preocupação na região desde que o regime de Minsk os acolheu no seu território após uma rebelião na Rússia.

A Lituânia e a Polónia têm avisado repetidamente os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) que os mercenários Wagner podem fazer-se passar por requerentes de asilo para tentar atravessar a fronteira entre a Bielorrússia e a UE.

“Podem ser grupos de refugiados, migrantes transferidos irregularmente com o objetivo de causar algum tipo de perturbação” na fronteira, avisou Abramavicius.

Por seu lado, e referindo-se à presença de membros do grupo Wagner na Bielorrússia, o líder do partido nacionalista populista polaco, Jaroslaw Kaczynski, afirmou que os mercenários estão no país vizinho com o objetivo de “provocar várias crises dirigidas principalmente contra a Polónia”.

“[A Polónia] tem de preparar-se e desenvolver o seu sistema de defesa, para que estas provocações falhem”, sublinhou Kaczynski.

Quinta-feira, o ministro do Interior polaco, Mariusz Kaminski, admitiu preocupação com a situação, mas manifestou-se confiante em relação a uma eventual intromissão, lembrando que o tráfego regular através da fronteira está já extremamente restringido pelas sanções recíprocas impostas por Varsóvia e Minsk.

No fim de semana passado, o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, garantiu ao homólogo russo, Vladimir Putin, que iria “manter” o grupo Wagner no centro da Bielorrússia.

“[Os combatentes do grupo Wagner] pedem para ir para oeste, […] para Varsóvia ou Rzeszów”, na Polónia, disse Lukashenko na altura.

Também quinta-feira, o ministro responsável pelos serviços de informações polacos, Stanislaw Zaryn, sublinhou que o país deve estar preparado para um ataque do grupo Wagner, acrescentando que os mercenários já estão a treinar com o Exército da Bielorrússia.

“Neste momento, existem cerca de mil [membros do grupo Wagner] na Bielorrússia”, havendo algumas estimativas que admitem ir “até três mil”, acrescentou.

O Centro para a Resistência Nacional (CRN), estabelecido pelas forças de operações especiais ucranianas para promover atividades de subversão no outro lado da frente, afirmou que o grupo Wagner pretende recrutar soldados bielorrussos dispostos a atacar a Polónia e Lituânia.

Estas tentativas de reforçar as fileiras do grupo paramilitar russo estão a decorrer no âmbito da instrução que os membros do Wagner estão a fornecer aos soldados da Bielorrússia em solo bielorrusso, onde se fixaram após a rebelião do seu chefe, Evegueni Prigozhin, contra as chefias militares do Exército russo.

A Bielorrússia faz fronteira com a Ucrânia a sul, e também com a Lituânia, Letónia e Polónia, o que suscita receios sobre possíveis ações dos elementos Wagner contra território ucraniano, em plena contraofensiva contra as forças invasoras russas, ou contra estes três países da NATO e da União Europeia.

De acordo com o ministro polaco, por agora “não é clara a missão que estão a cumprir”, e a base provisória onde os mercenários do Wagner estão instalados fica em Mogilev, a menos de 100 quilómetros de Minsk.

Zaryn destacou que a chegada dos mercenários do grupo paramilitar russo à Bielorrússia foi, no início, “um presente para [o Presidente bielorrusso Aleksandr] Lukashenko, que talvez pensasse que com eles poderia garantir o seu poder” e controlo do país.

Nos últimos dois anos, a Polónia e a Lituânia têm vindo a construir barreiras ao longo das fronteiras com a Bielorrússia e a Rússia, acusando estes dois países de encorajarem os migrantes que desejam chegar à UE a entrar ilegalmente no território dos países vizinhos.