Numa entrevista à Lusa em Lisboa, Fadel Abdul Ghany, adiantou não ter tido nenhum contacto com as autoridades portuguesas, a quem já pediu reuniões, questionando-se por que razão Portugal não fez, nos últimos anos, qualquer comentário sobre a situação dos Direitos Humanos na Síria.
“Portugal é um dos principais países democráticos que defende os direitos humanos, que está na linha da frente na defesa dos direitos humanos. Perguntamo-nos porque é que ainda não fez qualquer comentário, um simples ‘tweet’ sobre a Síria nos últimos anos? Ouvimos preocupações da França e de outros países. Porque é que Portugal não comenta?”, questionou Fadel, antes de viajar, sábado, para os Estados Unidos.
Essa foi uma das mensagens que deixara, sexta-feira, numa reunião da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias do Parlamento português, em que também acabou por lamentar que apenas três partidos tivessem participado — Partido Socialista (PS, no poder), Partido Social-Democrata (PSD) e Chega –, estranhando a ausência do Bloco de Esquerda (BE), Partido Comunista Português (PCP) e Partido Animais e Natureza (PAN).
“Vim a Portugal para informar o Governo e o Parlamento que a Síria ainda conta e que a violência continua, persistindo os crimes contra a humanidade perpetrados pelo regime de Bashar al-Assad e por outros países”, como a Rússia e o Irão, sublinhou.
Para Fadel, é importante que Portugal perceba que, para os sírios, “é importante ouvir a voz portuguesa” porque isso significa que Portugal “ainda apoia o movimento que luta pela democracia” e para “ajudar a pôr cobro à ditadura [do regime do Presidente Bashar al-Assad]”.
“Não sabemos o que Portugal pensa. Precisamos de uma declaração e que [Lisboa] aproveite todas as oportunidades para manifestar o apoio à democracia síria”, defendeu, insistindo na ideia de não saber por que razão o Governo português não dá passos nesse sentido.
“Se não tiverem informações, nós podemos fornecer-lhes, pois somos a maior organização na Síria. Temos os dados sempre atualizados, temos estatísticas para que possam basear uma declaração oficial sobre a Síria, que tem sido esquecida das declarações do Governo português. Espero que, depois desta visita, o Governo possa rever esta atitude e tome medidas para, pelo menos, comentar os assuntos sírios”, acrescentou.
“Não estamos a pedir muito. Quando acontecem coisas importantes e Portugal não está presente sinto-me triste como ativista dos Direitos Humanos, tanto mais que é um país que sempre defendeu a democracia e os direitos humanos”, referiu, sublinhando que as respostas dadas pelos três partidos que o ouviram na audição “foram positivas”, mas ficando-se apenas pela garantir de que “acompanham a situação”.
Fadel salientou que, na audição, foi-lhe indicado que Portugal, através um programa criado pelo antigo Presidente português Jorge Sampaio, tem apoiado e recebido estudantes sírios, mas que nada mais foi adiantado.
“Atualmente há zero por cento de atenção ao que o Governo sírio está a fazer. No Parlamento, destaquei a ocorrência recente de incidentes importantes e que gostava de ouvir o Governo português comentar, como, por exemplo, o uso, até recente, pelo regime sírio, de armas químicas. Qual foi a reação do Governo português?”, lamentou, lembrando que esta última ação de al-Assad foi documentada pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla inglesa).
Sempre muito crítico, por um lado, e “triste”, por outro, Fadel referiu que muitos países já se pronunciaram, como a França, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Suíça, Turquia ou Qatar.
“Porque é que Portugal ainda não se pronunciou? É uma declaração que demora poucos minutos, com poucas linhas, a condenar o regime sírio. Isto significa muito para os sírios, pois demonstra que Portugal se preocupa com o sofrimento do povo sírio, que acompanha a evolução dos acontecimentos, que apoia a causa (dos direitos humanos), que está contra a ditadura (de Damasco) e que está contra o uso de armas químicas”, prosseguiu.
Nesse sentido, pede também às autoridades portuguesas que ajudem a recolocar a Síria na agenda internacional, sobretudo na defesa dos direitos humanos na Síria.
“Em Portugal, nada disso aconteceu. Fiquei frustrado”, concluiu.
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