Porquê? É a pergunta que mais se repete quando uma gravidez é interrompida sem causa aparente, o que acontece, segundo as estatísticas, em entre 20 e 25% dos casos. Um número mais reduzido de mulheres, 1% do total, mas ainda assim significativo em termos absolutos, passa por três ou mais abortos sem que muitas vezes seja claro porquê.

Uma situação que pode mudar com os avanços que estão a acontecer nos testes genéticos. Um novo método, que combina várias tecnologias de despiste genético, está a ser testado no Centro de Fertilidade da Universidade de Columbia em Nova Iorque e promete respostas mais rápidas e baratas. Em concreto, respostas em quatro horas e um custo abaixo de de 200 dólares. Para se poder comparar, alguns dos testes existentes no mercado custam cerca de 6000 dólares.

“A perda de uma gravidez é algo incrivelmente devastador de lidar para quem passa por isso, mas do ponto de vista médico e científico é uma caixa negra", afirma Zev Williams, diretor do Centro de Fertilidade da Universidade de Columbia, em entrevista à NBC News. É essa caixa negra que a comunidade científica procura agora desvendar.

Para as mulheres e casais que passem por uma situação de aborto, o novo método permite responder - em poucas horas - mediante testes realizados à placenta qual a razão ou razões que determinaram que a gravidez não avançasse. O que o teste traz de novo é uma resposta - não sendo certo que, dada a variedade de situações, tal signifique uma solução para prevenir futuros abortos.

O facto de se obterem respostas num curto período de tempo após a perda da gravidez não é forçosamente uma coisa boa, argumenta por outro lado Cynthia Casson Morton, geneticista num hospital em Boston.  Considerando o novo método promissor, a dúvida reside na forma como os casais lidam com as respostas. "É muita informação para assimilar num momento em que estão a sofrer", afirma.

A razão pela qual tantas gravidezes não seguem em frente permanece, em grande parte, um mistério. Os especialistas acreditam que metade dos abortos espontâneos nas primeiras semanas de gravidez, muitas vezes quando a mulher nem sabe ainda que está grávida, se devem a disfunções genéticas. Problemas de coagulação sanguínea, de tiroide ou no útero são outras das causas encontradas.

Apesar das várias causas plausíveis, um dos problemas que subsiste é de ordem psicológica e relaciona-se com o facto de muitas mulheres se culparem pela perda da gravidez. Um estudo realizado em 2015 mostrava que 47% das mulheres dizia sentir-se culpada após um aborto espontâneo e 41% sentiam que poderiam ter feito algo de errado.

O equipamento usado pela  equipa da Universidade de Columbia é já produzido comercialmente pela Oxford Nanopore Technologies, uma empresa  sediada no Reino Unido, desde 2015, sendo aplicado em vários despistes, incluindo epidemias como o coronavírus. A equipa de investigadores acredita que será a primeira a usá-lo para entender o que se passa geneticamente no caso de perda de gravidez.