O antigo vice-primeiro-ministro foi hoje o orador convidado do jantar-conferência da Universidade de Verão do PSD e, apesar de ter ‘avisado’ que nos próximos tempos só falaria de eleições presidenciais norte-americanas, deixou um conselho ao centro-direita em Portugal.
Questionado por um dos cerca de cem ‘alunos’ sobre qual o perfil e características que deveria ter o próximo Presidente da República, Portas respondeu de forma indireta.
“A mim parece-me que para o espaço não socialista a prioridade é construir uma alternativa que suceda ao dr. António Costa, não é encontrar um sucessor para o professor Rebelo de Sousa. Mas obrigadinho pela pergunta”, respondeu, recebendo muitos aplausos da sala.
No início da sua longa intervenção inicial — uma hora em vez da meia hora prevista -, o comentador televisivo já tinha deixado um aviso sobre a matéria que entrou na atualidade política depois de o antigo líder do PSD Luís Marques Mendes ter admitido no domingo poder ser candidato a Belém caso tal se prove “ter utilidade para o país”.
“Quando estava a vir para aqui, li que hoje seria a minha ‘rentrée’. A minha ‘rentrée’ é no domingo com o Global [programa de comentário televisivo na TVI], onde falarei de eleições presidenciais, mas daquelas que vão acontecer nos Estados Unidos em 2024”, ironizou.
Esta foi a única matéria de atualidade nacional abordada de forma muito breve por Paulo Portas ao longo das mais de duas horas – durante as quais foi bebendo vários cafés – que durou a conferência seguida do período de perguntas e respostas, dedicada totalmente à política externa.
O comentador televisivo e administrador não executivo da Mota-Engil disse querer dar aos participantes — com uma idade média de 21 anos – uma visão global sobre o mundo em que viverão, e pediu-lhes repetidamente que “tomem cuidado”, alertando para a crescente polarização do mundo entre China e Estados Unidos, o politicamente correto que “acha que pode reescrever a história” ou o aumento da influência das redes sociais na definição das prioridades políticas e da chamada cultura de conflito.
“A base da democracia é o compromisso, não é o conflito verbal que se aproxima do conflito físico. Quem ganha sabe ganhar, quem perde sabe perder, não é o insulto permanente”, defendeu.
Sobre a crescente influência da Internet na formação de opiniões políticas, Portas rejeitou que a solução possa passar pela censura, mas defendeu uma obrigação para quem abre uma conta numa rede social de se identificar perante as plataformas — evitando perfis falsos – e questionou se não deve haver “um certo grau de responsabilidade penal” para as plataformas quando permitem incitamentos ao cometimento de crimes.
“As pessoas estão a ficar treinadas num modo de ver o mundo em que já não querem saber os factos, só querem ler, ouvir e ver coisas que confirmem o seu preconceito já existente. À esquerda e à direita, tomem cuidado com a ideia de que não há diferença entre verdade e mentira”, apelou.
O antigo líder do CDS-PP ao longo de 16 anos deixou ainda um pedido aos jovens para que resistam ao cansaço da guerra na Ucrânia, admitindo que esta é “um insulto à inteligência” desde o primeiro dia.
“A arma de Putin é o vosso cansaço, é a fadiga do Ocidente. Se não tiverem mais razões, pensem que se Putin prevalecer na Ucrânia não para na Ucrânia. O próximo passo será dentro das fronteiras da União Europeia e da NATO: é a razão mais direta para que a Europa faça o que está ao seu alcance para que a Rússia não triunfe na Ucrânia”, defendeu.
No final da sua primeira participação na Universidade de Verão do PSD, Portas disse ter “gostado imenso” de ali estar, apesar das “horas inauditas” a que irá chegar a Lisboa, atenuadas talvez pelos vários cafés que foi bebendo ao longo da noite.
A 19.ª Universidade do Verão do PSD, iniciativa de formação política de jovens quadros, decorre em Castelo de Vide (Portalegre) desde segunda-feira e contará na quarta-feira com a participação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sendo encerrada no domingo pelo líder do PSD, Luís Montenegro.
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