"O Porto ainda não tem isso e tem que ter: as bicicletas públicas têm que aparecer. E têm que aparecer rápido. Não chega só as empresas privadas. Tem que ser um trabalho público. É preciso comprar muita bicicleta, [...] serem já quase gratuitas, que façam parte do Andante", defendeu.

Paula Teles falava num debate a propósito da apresentação da Estratégia de base para a dispersão dos fluxos turísticos do destino Porto e a criação de quarteirões no concelho, que decorreu hoje no Reservatório da Pasteleira.

O "excesso de pressão turística" no centro histórico levou a Câmara do Porto a desenhar uma estratégia para promover a cidade 'dividindo-a' em oito quarteirões, rejeitando o perigo de perda de autenticidade em zonas atualmente não turistificadas.

"O turismo preocupa-me sempre muito na perspetiva do planeamento da cidade e da mobilidade urbana sustentável", afirmou Paula Teles, lembrando que os carros "já quase não conseguem circular, estão completamente envolvidos por peões" nas zonas turísticas.

A especialista e consultora na área da mobilidade refere que, apesar do cenário de congestionamento, o carro vai até ao centro da cidade "porque nada o impede, muitas das vezes", lembrando porém a implementação das Zonas de Acesso Automóvel Condicionado (ZAAC) no Porto, bem como a rede 20, que priviligia o peão e modos suaves de mobilidade.

Paula Teles considera importante conjugar a dispersão de turistas pelos oito quarteirões sugeridos para a cidade, ao "articular esta vertente turística com o ordenamento do território", conjugando sensibilidades entre o planeamento, mobilidade, espaço público e turismo.

"Sem acessibilidade e mobilidade, não vamos conseguir chegar aos quarteirões", advogou, sendo também necessário "desenhar passeios, desenhar praças, colocar árvores, bancos de jardins, humanizar, para esta vivência urbana poder existir".

A especialista antecipa que muitos dos percursos entre os vários quarteirões "vão ter que se fazer a pé", de bicicleta ou "em veículos mais amigos do ambiente e mais verdes", tudo "numa rede musculada de mobilidade urbana sustentável".

Presente na audiência, o administrador da STCP Rui Saraiva rejeitou a ideia de que o Porto não tenha transportes públicos "devidamente articulados", sendo sim "pouco conhecidos e pouco usados", havendo "um 'mindset' [mentalidade] a mudar".

"O transporte público é aquele que vai resolver a possibilidade de um turista ou de quem habita a cidade poder visitar os tais quarteirões", antecipou, considerando ainda que os modos suaves "são muitíssimo importantes, mas como complemento".

Aos jornalistas, a vereadora do Turismo e Internacionalização da Câmara do Porto, Catarina Santos Cunha, considerou que a "pedonalização do centro histórico" já preconizada pela autarquia será "fundamental para que o fluxo de pessoas nessas zonas não seja apenas nos passeios e que convivam com os carros", de forma a que "a pressão não se sinta e as pessoas fluam com mais naturalidade".

No sábado, a propósito da logística urbana, a presidente da MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, Vera Diogo, referiu que o Porto "ainda está bastante longe" do ideal em termos cicláveis, mas contrariou a ideia de uma cidade difícil para pedalar: "Tem todas as condições para ser uma boa cidade para andar de bicicleta, porque é relativamente pequena, e tem um bom planalto central, embora se fale sempre muito das colinas do Porto".

Vera Diogo considerou também que o argumento da meteorologia "não serve" para o Porto, até porque, apesar da habitual chuva, "há países onde objetivamente o tempo é bastante pior, as condições são bastante piores e durante uma parte maior do ano, e não há esse motivo".