Passa um, passam dois. As portas abrem, mas não entra ninguém na composição: o metro vem cheio. A redução do preço dos passes mensais fez aumentar “ainda mais” as dificuldades para quem já circulava nos transportes públicos da Área Metropolitana do Porto, com metros e autocarros “abarrotar” em horas de ponta.
“É um caos, os autocarros vêm cheiinhos até à pinha, uma pessoa quer entrar e não consegue. Há poucos autocarros para tanta gente, mas isso já se via antes dos passes baixarem de preço, só que agora piorou”, contou Maria Adelaide esta segunda-feira à agência Lusa.
Maria Adelaide apanha todos os dias quatro autocarros entre Gondomar e Arca de Água, no Porto, onde trabalha. “Eu acho que agora até tiraram autocarros. Não sou só eu que digo, quando estamos nas paragens, muitas pessoas têm a mesma opinião”, sublinhou.
Na cidade no Porto, “a gente entra bem, mas para Gondomar é um caos”, frisou a utente.
Maria João, 20 anos, vem da Póvoa de Varzim. Aqui na estação de metro da Trindade, desabafa: “os metros vêm mais cheios e há mais confusão”.
“Muitas vezes vou para a Póvoa e só há uma carruagem e é impossível. Já fiquei de fora e tive de esperar por outro, mas também me acontece de manhã, quando tenho de apanhar aqui na Trindade o metro para o Hospital de São João. Muitas vezes é demasiada confusão e não dá sequer para entrar. Tenho de ficar à espera”, referiu a jovem.
Maria João considerou ainda que “antes da descida do preço dos passes isso acontecia, mas era menos frequente”.
Fátima Correia não anda de metro porque lhe “mete muita confusão”, por isso desconhece se as carruagens andam ou não lotadas, mas em relação aos autocarros não hesita em afirmar que “anda muita gente, são muito menos autocarros e andam cheios”.
“Devia haver mais transportes, mais autocarros e mais metros, para quem usa. Vem tudo sobrelotado, já andavam, mas com a redução do passe passou a ser mais”, afirmou, antes de dizer que agora tem de “sair de casa muito mais cedo”.
Sem muito tempo “para conversas”, porque tinha apenas “dois minutos” para entrar ao serviço, Rui Andrade contou que “a certo ponto, em Vila Nova de Gaia ninguém entra na carruagem” do metro.
“Antes havia mais espaço para toda a gente, agora não. A partir de General Torre vem cheio até à Trindade”, referiu à agência Lusa.
José Folha vem de Matosinhos de metro e sai na Trindade, onde apanha o autocarro até Gaia. “Eu entendo que não há autocarros e os que há estão fora dos horários. Já me aconteceu ir a pé até Gaia”, acrescentou.
Manuel Paulo Teixeira, diretor de Mobilidade e Transportes da câmara municipal do Porto, contou ao SAPO24 que “a cidade tem tido muitas solicitações”, fruto da procura turística que tem enchido as ruas da cidade — tanto de carros, como de pessoas.
“Tem-se verificado um crescimento económico muito relevante, importante e bem-vindo, só que este crescimento traz efetivamente maiores necessidades de utilização do espaço público, com uma maior presença de veículos — e a única coisa que não cresce é mesmo a cidade em si”, disse, no início da semana passada.
"O transporte em autocarro está sempre bastante condicionado àquelas que são as condições de trânsito na cidade, a não ser que o município adapte a infraestrutura para lhes dar melhores condições, através do prolongamento das linhas BUS — e isso tem vindo a ser feito", explica, dando os exemplos da rua Diogo Botelho, com "mais alguns metros de via BUS que deram uma melhoria muito grande para a ligação da zona mais ocidental, até à zona do centro”.
Manuel Paulo admite, no entanto que "de facto a margem para melhoria é ainda muito grande. Estamos esperançosos de que ela venha a acontecer".
Questionado sobre como pode ser ultrapassada a atual situação de caos no metro e nos STCP, Manuel Paulo prefere não tecer teorias: "eu não me atrevo a dar respostas sobre como é que [as empresas] fazem a gestão das suas frotas e quais os problemas que têm.”
"Do lado da câmara, em função daquela que seria uma expectativa do acréscimo da utilização face ao serviço que existia, optámos por alargar a gratuitidade dos passes dos 13 aos 15 anos. Entendemos que havia margem ainda para integrar essa franja", explica.
Para já, a intervenção da autarquia resume-se à infraestrutura, "futuramente, vendo juntamente com a STCP, como mexemos na oferta e naquilo que ainda faz falta e esse diagnóstico está feito — e a STCP também o vai fazendo anualmente."
"Estamos também a fazer outras obras importantes para preparar a infraestrutura: a obra que está a acontecer na avenida de Fernão de Magalhães, onde vamos ter um corredor de autocarros de alta qualidade — basicamente é um corredor onde os autocarros têm sempre prioridade sobre o automóvel, o que funciona um pouco como o metro à superfície: tem uma via verde e sempre que chega a um cruzamento com semáforos tem verde. Portanto, ele só para, neste caso, não nas estações, mas nas paragens."
(Com Lusa)
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