“O manifesto explica sucintamente os quatro eixos da greve, porque não é só uma greve laboral, também é uma greve ao trabalho dos cuidados e das tarefas domésticas que são, na sua maioria, tidos pelas mulheres e limitam-nas numa série de contextos de participação, seja ela política, seja mesmo no direito ao lazer”, explicou Patrícia Martins.
Esta ativista integra a associação "A Coletiva", uma das mais de 30 associações e sindicatos que estão a trabalhar na Plataforma rede 8 de março com o intuito de organizarem no Dia Internacional da Mulher de 2019 uma greve feminista nacional, com manifestações por todo o país, à semelhança do que aconteceu este ano em Espanha.
Neste sentido, na apresentação pública no Porto, no sábado, estará presente Haizea Miguel, da Comissão 8 março de Espanha, que integra o Movimento Feminista de Madrid, e outras mulheres de diversos setores laborais para darem o seu testemunho e falarem da “precariedade e da desigualdade” no mundo profissional.
Além do eixo laboral, continuou, o manifesto foca-se no estudantil, “que tem a ver com as questões específicas da educação e está a ser dinamizado por estudantes do ensino superior”, e também o “eixo do consumo, que é um apelo mais simbólico”, à semelhança do que aconteceu em Espanha, contou.
“Está relacionado com o facto de uma série de bens e serviços estarem associados à exploração de mulheres, seja da sua produção inicial até ao fim, até ao lado comercial”, explicou Patrícia Martins, que deu como exemplo a ida às grandes superfícies.
“A maior parte das pessoas que fazem as compras nos supermercados são as mulheres e imaginemos no dia 8 de março as mulheres não fazerem compras. O que seria este impacto económico? As coisas estão relacionadas, são as mulheres que vão fazer compras, porque são as mulheres que se ocupam mais da gestão familiar”, disse.
Um outro desafio lançado por esta ativista é o de as mulheres neste dia não cozinharem, nem irem buscar os filhos à escola, apesar de reconhecer que “é impossível contabilizar” quantas mulheres não o farão, embora seja “uma forma simbólica” de luta, defendeu Patrícia Martins, que lembrou a colocação de aventais, e outros símbolos, nas varandas, por parte das mulheres espanholas, este ano, no 8 de março.
“Não é possível contabilizar quem faz greve ou não, até porque tem a ver com as dinâmicas de cada família, mas se tivermos uma maior participação nas manifestações que costuma haver significa que houve uma maior compreensão dos objetivos da greve, nomeadamente a nível do trabalho não remunerado”, reforçou.
A plataforma, que existe desde 2011 em Lisboa, tem “feito ações pontuais” e, neste momento, está focada na mobilização para a greve feminista agendada para 8 de março de 2019, explicou a ativista, que justificou assim a presença em várias cidades para apresentar a plataforma e reunir pessoas que constituam um núcleo local para ajudar a organizar as atividades a nível nacional.
Patrícia Martins acrescentou que estão mobilizadas mais de três dezenas de associações e coletividades sindicais e que “já foram solicitadas “em várias cidades a presença de representantes de partidos políticos na plataforma mas, na verdade, os únicos partidos que estão a participar é o Movimento Alternativa Socialista (MAS) e o Bloco de Esquerda (BE)”.
“Esperamos que neste encontro outros representantes de outros partidos políticos venham participar na sessão pública, porque o objetivo é mesmo que haja o maior alargamento possível”, apelou, tendo em conta que o objetivo é chegar a diferentes setores laborais.
Sobretudo, acrescentou, “às profissões bastante feminizadas e isso significa que há uma desvalorização social desse trabalho, não só a nível de desigualdade salarial para postos específicos, mas também a nível das próprias condições de trabalho e muitas vezes associado a diversas formas de precariedade a que estão sujeitas as mulheres”.
O desafio passa também por mobilizar os homens que, segundo Patrícia Martins, “têm aqui uma participação, nomeadamente numa série de atividades que estão a ser programadas pelos vários níveis locais e depois também no próprio dia 8 de março de 2019 poderem assumir algumas das responsabilidades que geralmente são das mulheres”, incitou.
“Se tomarem conta das crianças ou de outras pessoas dependentes, providenciarem refeições, para que as mulheres possam participar nas manifestações, é uma forma simbólica de reivindicar uma maior igualdade, seja na esfera pública ou privada, por uma maior igualdade entre homens e mulheres”, defendeu.
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