Em declarações ao Expresso, o secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba, defendeu que a proposta da Comissão Europeia, que apelou ontem a uma poupança no consumo de gás pelas empresas e famílias, com o objetivo de uma redução em 15% até à primavera de 2023, "não se pode aplicar a Portugal".
Explica Galamba ao semanário que se trata de uma redução "insustentável, porque nos obrigava a ficarmos sem eletricidade".
Nos primeiros cinco meses deste ano, Portugal aumentou em 67% o consumo de gás natural consumido para eletricidade. A proposta da comissão implicaria cortar este acréscimo de consumo, em cima dos 15% agora exigidos.
Galamba criticou a Comissão Europeia por desenhar uma proposta que não tem em consideração as características de cada país e, em concreto, as especificidades ibéricas. "Há países que não se protegeram e agora pedem ajuda", diz.
No caso de Portugal, que importa a quase totalidade do seu gás natural por via marítima, a exposição ao gás russo é muito reduzida, representando menos de 10% do total importado.
Afinal o que pede a Comissão Europeia?
As tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.
Num pacote publicado esta quarta-feira sobre “poupar gás para um inverno seguro”, o executivo comunitário aponta que “a UE enfrenta o risco de novos cortes no fornecimento de gás da Rússia, devido ao armamento das exportações de gás do Kremlin, com quase metade dos Estados-membros já afetados por entregas reduzidas”.
“Tomar medidas agora pode reduzir tanto o risco como os custos para a Europa em caso de maior ou total perturbação, reforçando a resiliência energética europeia e, por conseguinte, a Comissão propõe hoje um novo instrumento legislativo e um Plano Europeu de Redução da Procura de Gás, para reduzir a utilização de gás na Europa em 15% até à próxima primavera”, anuncia a instituição.
Apontando que “todos os consumidores, administrações públicas, famílias, proprietários de edifícios públicos, fornecedores de energia e indústria podem e devem tomar medidas para poupar gás”, a Comissão Europeia vinca que irá, também, “acelerar o trabalho de diversificação da oferta, incluindo a compra conjunta de gás para reforçar a possibilidade da UE de obter fornecimentos alternativos de gás”.
Previsto está que a Comissão Europeia possa declarar uma situação de emergência na União Europeia (UE) perante um eventual corte do fornecimento de gás russo, com o racionamento e a redução do fluxo a serem medidas de último recurso.
Esta situação de alerta nomeadamente regional já está prevista no regulamento existente relativo à segurança do aprovisionamento de gás, que surgiu após crises energéticas anteriores e que prevê três níveis nacionais de crise (alerta precoce, alerta e emergência), mas o que Bruxelas propõe agora é um novo regulamento sobre medidas coordenadas de redução da procura de gás.
“O novo regulamento estabeleceria um objetivo para todos os Estados-membros de reduzir a procura de gás em 15% entre 01 de agosto de 2022 e 31 de março de 2023. O novo regulamento daria igualmente à Comissão a possibilidade de declarar, após consulta dos Estados-membros, um ‘alerta da União’ sobre a segurança do aprovisionamento, impondo uma redução obrigatória da procura de gás a todos os países”, precisa a instituição.
Em concreto, o alerta da União “pode ser desencadeado quando existe um risco substancial de uma grave escassez de gás ou de uma procura de gás excecionalmente elevada”, prevendo-se que, nesse cenário, “os Estados-membros atualizem os seus planos de emergência nacionais até ao final de setembro para mostrar como tencionam cumprir o objetivo de redução, e devem informar a Comissão sobre os progressos realizados de dois em dois meses”.
“Os Estados-membros que solicitem solidariedade no fornecimento de gás deverão demonstrar as medidas que tomaram para reduzir a procura a nível interno”, adianta Bruxelas.
A Comissão Europeia anunciou o Plano Europeu de Redução da Procura de Gás, com medidas, princípios e critérios para a redução coordenada da procura, estipulando a substituição do gás por outros combustíveis e a poupança global de energia em todos os setores.
O objetivo é “salvaguardar o fornecimento aos agregados familiares e utilizadores essenciais como hospitais, mas também indústrias que são decisivas para o fornecimento de produtos e serviços essenciais para a economia e para as cadeias de fornecimento e competitividade da UE”, adianta a Comissão Europeia.
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