O dirigente do MPPM afirmou que “Portugal atrasou-se no relógio da história. Por cada país que reconhece o Estado da Palestina, fica mais evidente que Portugal está do lado errado da História e a pertencer a um grupo pouco recomendável”.

O MPPM foi um dos organizadores de uma concentração, no Rossio lisboeta, a par da CGTP, do Conselho Português para a Paz e Cooperação e do Projeto Ruído, em que se exigiu o reconhecimento do Estado da Palestina por Portugal.

Ainda segundo Carlos Almeida, o atual não reconhecimento “é mais do que inação”, acrescentando que “a cada novo massacre em Gaza, o governo português torna-se cúmplice”.

Perante centenas de pessoas, questionou: “Se o governo diz que este não é o momento certo, então é quando? Quando a população [palestiniana] tiver toda sido expulsa das suas terras?, “Quais são as fronteiras do Estado de Israel?”.

Criticou ainda o argumento, que classificou de “capcioso”, segundo o qual o reconhecimento deve ocorrer depois de um acordo bilateral.

“Devemos esperar que a força do mais forte determine as fronteiras da Palestina?”, alvitrou, para contrapor que “o reconhecimento do Estado da Palestina é um direito do povo palestiniano. Quando usam aquele argumento estão a dizer que o povo palestiniano não é dono do seu destino”.

Desta forma, concluiu: “Um governo assim não nos representa”.

Depois de recordar que “a Revolução de há 50 anos também se fez contra o colonialismo”, Carlos Almeida defendeu que, “perante a barbárie”, deve acabar a cooperação com Israel e Portugal deve colocar-se ao lado dos Estados que em Haia exigem julgamento de Israel por crime de genocídio.

Os participantes na ação de solidariedade com a Palestina ouviram também uma palestiniana, Noor, residente em Portugal.

Ao referir-se ao ocorrido há duas noites em Rafah, em que um bombardeamento israelita de um acampamento de refugiados palestinianos causou cerca de 50 mortos, lembrou que o ataque foi feito depois de o Tribunal Internacional de Justiça ter determinado o fim das operações militares em Rafah.

Na sua opinião, isto demonstra o “desprezo” de Israel pelo TIJ.

Descrever o que se passou, confessou, “está para lá do que as palavras podem dizer”, recondando que “desde 1948 que se viu tudo isto acontecer”.

Dirigindo-se à audiência, interrogou, com referências ao presente: “O que é que sentem? O que é que isto vos faz sentir? Crianças mutiladas, jornalistas e profissionais de saúde mortos (...) Peço-vos que façam o que possam, o que estiver ao vosso alcance”.

Antes da sua intervenção, questionada pela Lusa sobre as declarações do governo israelita que atribuiu a dimensão da tragédia em Rafah à existência de um paiol do Hamas, Noor considerou-as “uma anedota de muito mau gosto”.

O governo israelita, acrescentou, “pode dizer o que quiser. As suas palavras são vazias, mas as ações claras. Continua a cometer genocídio. Rafah é aqui mais um capítulo do genocídio em curso”.

De forma sintética, considerou: “Às vezes, [os governantes israelitas] dizem alguma coisa, porque precisam de disfarçar. Mas as pessoas não são estúpidas. Veem o que se está a passar – e é o que conta”.

Na concentração viam-se algumas faixas como “Paz no Médio Oriente. Palestina independente” e “Presidente Marcelo de Sousa: lambe-botas do sionismo”.