No único diário que saiu hoje em Luanda, o Jornal de Angola, estatal, a primeira página é ocupada em quase dois terços com a manchete "13 acordos de cooperação", encimada com uma fotografia que, curiosamente, não surge nem o chefe de Estado angolano nem o português.

Na foto, que ocupa meia página, aparecem a ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van-Dunen, e o do Interior angolano, Ângelo da Veiga Tavares, a assinarem acordos de cooperação no setor judicial.

Nas páginas dois e três, o destaque vai para o facto de os novos acordos de cooperação definirem "o novo sentido do intercâmbio", em que se realça que Portugal e Angola vão cooperar nos domínios da investigação criminal, ciências forenses, medicina legal e serviço penitenciário.

A resolução do problema da dívida bilateral é também destacado no Jornal de Angola, bem como a criação de uma comissão que vai avaliar a implementação dos acordos entre os dois países, realçando-se ainda o "prenúncio" de mudança de atitude face ao investimento por parte das empresas portuguesas.

No Jornal de Angola, que não faz quaisquer comentários em editoriais sobre a visita de João Lourenço a Portugal, é ainda destacado o convite feito por João Lourenço ao seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, para visita oficialmente Angola em 2019.

Nos semanários, o Novo Jornal não faz qualquer chamada de capa à visita do presidente angolano a Portugal, apostando na "guerra de palavras" entre João Lourenço e o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, "O país de um que deixou de ser do outro", remetendo para a página 16 o noticiário da deslocação do chefe de Estado.

Destacando apenas as palavras de João Lourenço quer em Lisboa quer no Porto, o Novo Jornal realça as intervenções do Presidente angolano sobre o combate à corrupção - "é preciso destruir esse ninho de ‘marimbondos' [vespas]", destacando também que a vontade dos povos dos dois países "é imutável e única" e que "nunca existiu nenhum irritante" nas relações entre os dois Estados.

Por seu lado, outro semanário, o Vanguarda, ocupa dois terços da primeira página com a visita de João Lourenço a Portugal, fazendo manchete com "E depois do irritante?".

"Uma no cravo outra na ferradura são climas que Luanda e Lisboa atravessam em ciclos da caminhada diplomática. Ultrapassadas as diferenças, abrem-se novos ventos aos investimentos e negócios", lê-se no subtítulo do semanário, que destaca ainda que a visita de João Lourenço é assente em parcerias de investimento e não em dívidas.

O Vanguarda assinala também que Lisboa respondeu "afirmativamente" ao desafio da diversificação da economia angolana, que o fórum com empresários no Porto "acentua clima de viragem" e que a intervenção de João Lourenço no parlamento português demonstrou "um contraponto ao clima vivido no ‘irritante'".

Em cinco páginas no interior, o Vanguarda destaca que Angola e Portugal estão a construir "uma estrada de dois sentidos", destacando que a visita ocorre "13 meses depois de [João Lourenço] ter ignorado Portugal no discurso de investidura", bem como resumos das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro português, António Costa, e do ministro das Relações Exteriores angolano, Manuel Augusto.

Ainda como "tema da semana", o Vanguarda publica também um artigo intitulado "O regresso dos que nunca saíram", em que se salienta que os investidores portugueses querem fazer negócios na agricultura e na indústria, que António Costa quer apoiá-los, mas que é de João Lourenço que "preferem receber garantias" de proteção dos investimentos.

Por fim, o semanário Expansão, que assinala a edição 500 em toda a primeira página, remete para a página 16 o tema da visita de João Lourenço a Portugal, destacando em título que o Presidente angolano quer uma relação com Portugal "além da partilha de interesses económicos", que precisa de ser "reiterada e alimentada com gestos mútuos".

"Do compromisso da criação de uma ‘nova Angola de transparência', onde estão a ser tomadas medidas para ‘repor a autoridades das instituições', e garantir ‘mais confiança dos mercados', ao ‘ninho de marimbombos', João Lourenço cimentou o novo momento com Portugal, um ‘parceiro importante'", lê-se no subtítulo do artigo.

João Lourenço, que iniciou quinta-feira a primeira visita de Estado a Portugal desde que foi empossado como Presidente de Angola (26 de setembro de 2017), terminou sexta-feira a parte oficial da deslocação.

Hoje, em atos não oficiais, João Lourenço visita a Base Naval de Lisboa (arsenal do Alfeite) e, de tarde, terá um encontro com representantes da comunidade angolana residente em Portugal, regressando domingo de manhã a Luanda.