Portugal e Espanha vão assinalar a reabertura da sua fronteira, na quarta-feira, com cerimónias ao mais alto nível, em Badajoz e Elvas, com a participação do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, do rei de Espanha, Felipe VI, do primeiro-ministro português, António Costa, e do chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez.
Com estes atos oficiais, juntando as mais altas figuras dos respetivos Estados, os dois países ibéricos pretenderam conferir um elevado simbolismo político à reabertura de uma fronteira que foi encerrada às 23:00 do dia 16 de março (00:00 do dia 17 em Espanha), há três meses e meio.
A decisão de limitar a circulação na fronteira terrestre comum a mercadorias e trabalhadores transfronteiriços, sem circulação para efeitos de turismo e de lazer, foi tomada por acordo e anunciada após uma reunião por videoconferência dos primeiros-ministros António Costa e Pedro Sánchez.
"Estas medidas pretendem garantir que a nossa fronteira terrestre vai continuar a permitir o bom funcionamento das relações entre os dois países, mas a assegurar a segurança que é imprescindível garantir neste momento", justificou na altura António Costa.
Na frente europeia, Portugal e Espanha têm estado na primeira linha em defesa das propostas da Comissão Europeia de Quadro Financeiro Plurianual (2021/2027) e de criação de um fundo de recuperação no valor global de 750 mil milhões de euros - propostas essas que têm merecido resistência por parte dos chamados "países frugais", Áustria, Holanda, Suécia e Dinamarca.
Um dos episódios mais relevantes na atual conjuntura de pandemia foi o ataque que António Costa fez em 26 de março passado ao ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, na sequência de uma reunião por videoconferência do Conselho Europeu.
O ministro holandês tinha sugerido que a Comissão Europeia devia investigar países como Espanha e Itália que afirmavam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pela pandemia da covid-19, o que levou o primeiro-ministro a classificar como "repugnante" esse tipo de discurso.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou-se solidário com a "indignação" de António Costa, e informou, entretanto, que falara com o rei de Espanha e que Felipe VI lhe transmitiu "o reconhecimento pela posição tomada pelo primeiro-ministro português" na União Europeia.
Segundo uma nota então divulgada pela Presidência da República, "o rei de Espanha sublinhou o reconhecimento pela posição tomada pelo primeiro-ministro português e ambos os chefes de Estado referiram a importância fundamental da solidariedade no seio da União Europeia".
Ainda na frente europeia, António Costa admitiu apoiar a candidatura da ministra da Economia, Nadia Calvino, à sucessão de Mário Centeno na presidência do Eurogrupo, considerando importante que esse cargo "continue a ser desempenhado por um socialista".
No plano bilateral, a ministra da Indústria, Comércio e Turismo espanhola, Reyes Maroto, começou por anunciar a reabertura das fronteiras com Portugal para o dia 22 de junho, anúncio a que o Governo português reagiu com surpresa, tendo sido depois acertado o dia 01 de julho.
Nos dois países ibéricos, quer a gestão da pandemia, quer o discurso a ela associado, não têm sido iguais.
Espanha foi um dos países mais atingidos a nível mundial, atualmente com o sexto maior número de mortes, registando nas últimas semanas uma diminuição do número de casos, enquanto Portugal foi inicialmente elogiado no plano externo e regista agora um surgimento de novos infetados sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa.
No dia 17 de junho, quando a UEFA confirmou a escolha de Lisboa para acolher a fase final da Liga dos Campeões em agosto, António Costa sustentou que isso era um sinal de que Portugal era visto como "um destino seguro".
O Presidente da República e o primeiro-ministro têm defendido que Portugal optou pela verdade na divulgação dos dados da covid-19 e têm assinalado que o país é um dos que realiza mais testes no espaço europeu.
"Nós escolhemos uma orientação que é a verdade. O que se diz todos os dias é aquilo que se sabe que acontece. Portanto, eu acho que é preferível a estar a dizer: olhe, isto é muito melhor e está a evoluir de uma determinada forma, e depois ter de corrigir oito dias, dez dias, quinze dias, vinte dias depois", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 20 de junho.
Na véspera, em Espanha, o Ministério da Saúde tinha atualizado o número de mortes causadas pela covid-19, que permanecia inalterado há 12 dias, registando mais 1.177 óbitos, o que elevou na altura o total para 28.313.
No passado domingo, em entrevista ao jornal catalão La Vanguardia, António Costa foi instado a comparar a evolução da covid-19 em Portugal e em Espanha, mas aconselhou "prudência" nas comparações internacionais e rejeitou depois que exista uma segunda onda da doença em Lisboa.
"Não se trata de Lisboa, mas de alguns bairros de municípios vizinhos. Não há um agravamento, mas nessas zonas não se assistiu à redução generalizada registada em todo o território. São 19 freguesias de um total de 3091", alegou.
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