“Portugal tem que impor mais ritmo e mais intensidade àquilo que são as medidas para promover a alimentação saudável”, defendeu a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, num encontro com jornalistas para assinalar o Dia Mundial da Alimentação, que se comemora na terça-feira.
Considerando um “marco histórico” a criação da estratégia integrada para a promoção da alimentação saudável em 2017, porque é a definição ‘preto no branco’ do que o país deve fazer para melhorar os hábitos alimentares, Alexandra Bento salientou que o importante agora é que “saia do papel com um grande ritmo e intensidade” e que sejam colocadas no terreno as medidas preconizadas.
“Portugal acordou muito tarde em relação àquilo que têm sido os reptos de organizações internacionais, como é o caso da FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação] que em 1974 dizia que todos os países deviam traçar uma política alimentar e nutricional para o seu país”, sublinhou.
Passaram mais de 40 anos até que Portugal traçasse essa política e esse atraso é visível na prevalência da obesidade (22,3%), da diabetes (13%), da hipertensão arterial (40%), disse a bastonária, observando ainda que mais de metade da população tem peso a mais, que uma em cada dez crianças é obesa e um terço tem peso a mais, o que “lhes vai condicionar uma série de doenças”.
“Isto faz-nos ver que acordámos muito tarde, mas se despertamos para o problema então temos que pôr medidas em ação com muita força e esta força exige a continuidade daquilo que está desenhado. Não podemos abrandar de maneira nenhuma”, defendeu.
Por outro lado, também é preciso que se pense que, para resolver a questão alimentar, deve constar do Orçamento do Estado uma série de medidas e iniciativas, disse Alexandre Bento, sublinhando que o Governo, à semelhança da maior parte dos países da OCDE, deve dedicar no próximo OE 3% dos custos associados à saúde em prevenção da doença, em vez dos atuais 0,2%.
“É preciso gastar dinheiro hoje para se poupar amanhã”, frisou.
“Um país, quando aumenta o seu produto interno bruto, se não apostar em literacia e se não controlar a oferta alimentar, as doenças crónicas não transmissíveis vão surgir”, uma situação que aconteceu em Portugal e que se traduziu na duplicação da disponibilidade de carne e na triplicação da disponibilidade de gordura.
A Ordem dos Nutricionistas lembra que, em Portugal, a prevalência de doenças crónicas associadas a desequilíbrios nutricionais “assumem níveis preocupantes”, sublinhando que, segundo a Direção-Geral da Saúde, metade das causas de doença e de morte no país tem relação direta com a alimentação.
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